CINEMA

Filme homenageia obra do poeta Ferreira Gullar

Homenagem à obra do poeta maranhense, dirigida pelos cineastas Zelito Viana e Gabriela Gastal, revela facetas de um Ferreira Gullar pouco conhecido do público

Quando eternizou a frase A Arte Existe Porque A Vida Não Basta, o poeta, ensaísta e escritor maranhense Ferreira Gullar tentava ali dar a dimensão da importância que a arte tem na vida do homem. A mesma frase dá nome ao filme Um Maranhense Chamado José Ribamar: A Arte Existe Porque A Vida Não Basta, uma memorável homenagem dos cineastas Zelito Viana e Gabriela Gastal à vasta obra de Ferreira Gullar que entra em cartaz a partir de hoje no Cine Praia Grande, no Centro Histórico.

Amigos de longa data, Zelito Viana foi o diretor dos dois principais retratos gravados do poeta, O Canto e A Fúria – Ferreira Gullar (1994) e Ferreira Gullar – A Necessidade da Arte (2005). Em 2016, o cineasta, desta vez, com a codireção de Gabriela Gastal, decidiu lançar o média-metragem Um Maranhense Chamado José Ribamar: A Arte Existe Porque A Vida Não Basta em que vai reconstruído a imagem do poeta que tornou-se imortal da Academia Brasileira de Letras, através de entrevistas com o próprio Ferreira Gullar, declamações de seus poemas e dramatizações inéditas dos mesmos. O filme ainda revela curiosidades, como o fato de Gullar ter crescido em uma casa sem livros (“só com exemplares da revista Detective) e lido histórias em quadrinhos.

Um Maranhense Chamado José Ribamar: A Arte Existe Porque A Vida Não Basta é um grande tributo à contribuição de Ferreira Gullar às artes, em um recorte afetivo da memória do poeta. No filme textos célebres do escritor são dramatizados por Marco Nanini em interpretações intensas e solitárias de alguns de seus versos mais conhecidos. Na voz do ator é possível conhecer um pouco da personalidade do homenageado, saber dos problemas enfrentados nos tempos de ditadura militar, os dramas da sua vida e seus questionamentos políticos e sociais. Suas trovas extrapolam as folhas de papel e ganham versões musicadas no violão de Paulinho da Viola e nos timbres de Adriana Calcanhotto e Laila Garin.

O roteiro – de autoria de Nelson Motta – traz verdadeiras pérolas registradas em entrevistas com o protagonista desta película. Ferreira Gullar explica a relação com suas obras, a descoberta do apreço pela poesia e o início da vida no Maranhão sem fugir de polêmicas, marca tradicional de sua trajetória. As dramatizações de seus trabalhos remontam a história desse múltiplo artista. Em Papo Furado, Nanini discorre sobre a relação do cronista com a fama e a perseguição do regime militar. Sobre o Amor aborda a complexidade das relações e do nobre sentimento, e Não Há Vagas disserta sobre os detalhes da criação de suas linhas. A cada verso, um momento de brilhantismo e de um homem imortal através de seu legado.

Indagado certa vez sobre sua atividade como crítico de arte, Gullar disse que, antes de pensar em ser poeta, queria ser pintor. “Depois a poesia tomou conta, essas coisas a gente não governa. Mas, continuo pintando e pensando sobre artes plásticas até hoje. Sobre poesia eu não penso, eu simplesmente faço: a minha poesia nasce do espanto. Qualquer coisa pode espantar um poeta, até um galo cantando no quintal. Arte é uma coisa imprevisível, é descoberta, é uma invenção da vida. E quem diz que fazer poesia é um sofrimento está mentindo: é bom, mesmo quando se escreve sobre uma coisa sofrida. A poesia transfigura as coisas, mesmo quando você está no abismo. A arte existe porque a vida não basta”, disse ele.

O poeta em três momentos

Poeta, letrista, cronista, artista visual e crítico, Ferreira Gullar é retratado em três momentos no filme. O primeiro é uma breve entrevista, em que ele defende dois conceitos que lhe são caros: A arte existe porque a vida não basta e A poesia nasce do espanto. Tudo começa com Gullar falando: “Disseram que a arte revela a vida. É mentira! A arte inventa a vida. Alguém conhece Hamlet? Ele só existe na peça do Shakespeare”. O filme também retrata o poeta que sempre buscou na realidade inspiração para a sua arte em situações cotidianas como, por exemplo, quando era reconhecido nas ruas.

O segundo momento do filme pode ser definido como um espetáculo teatral em que os artistas Adriana Calcanhotto, Paulinho da Viola e Laila Garin interpretam músicas com letras do homenageado. Neste espetáculo, o ator Marco Nanini é o mestre de cerimônias e, ao mesmo tempo, o alter ego do poeta, lendo crônicas e poemas. Todos os textos e canções foram selecionados pelo jornalista, compositor, escritor, roteirista e produtor musical Nelson Motta. O terceiro momento é uma longa entrevista com Gullar, em que ele explica, detalhadamente, como chegou à produção de colagens de alto relevo em papel e em metal. As locações foram realizadas no Teatro Glauce Rocha/Funarte, no centro da cidade, e nas casas de Gullar e Zelito.

FICHA TÉCNICA

Filme:Um Maranhense Chamado José Ribamar: A Arte Existe Porque A Vida Não Basta
Direção: Zelito Viana e Gabriela Gastal
Roteiro: Nelson Motta
Fotografia: Walter Carvalho e Jacques Cheuiche
Direção de arte: Marcos Flaksman
Figurinos: Helena Gastal
Edição: Luis Henrique Campos
Música: Berna Ceppas
Produção Executiva: Vera de Paula
Mapa Filmes do Brasil
As colagens em relevo foram gentilmente cedidas pelo jornalista e editor Leonel Kaz.

SERVIÇO

O quê? Um Maranhense Chamado José Ribamar: A Arte Existe Porque A Vida Não Basta
Quando? Sessões de 20 a 26 de julho, às 17h (todos os dias) e às 19h30 (quinta e sexta)
Onde? Cine Praia Grande, no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande, Centro Histórico
Quanto? Inteira: R$ 16 (meia: R$ 8), de segunda a sábado. Às segundas todos pagam meia-entrada e aos domingos inteira: R$ 12 e meia R$ 6.

O poeta maranhense faleceu em dezembro de 2016 no RJ

“Sobre poesia eu não penso, eu simplesmente faço: a minha poesia nasce do espanto. Qualquer coisa pode espantar um poeta, até um galo cantando no quintal. Arte é uma coisa imprevisível, é descoberta, é uma invenção da vida. E quem diz que fazer poesia é um sofrimento está mentindo: é bom, mesmo quando se escreve sobre uma coisa sofrida. A poesia transfigura as coisas, mesmo quando você está no abismo. A arte existe porque a vida não basta”

Ferreira Gullar, poeta e escritor

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