Gamela

Viana está dividida após conflito entre agricultores e índios

Após o ataque aos índios Gamela no último domingo, a cidade vive um clima de tensão e medo, tanto por parte dos moradores da região do conflito, como dos indígenas, que temem novos ataques

Reprodução

VIANA (MA) – A apreensão com os buracos em um trecho de 36km na entrada do município de Viana, a 214km da capital do Maranhão, é uma espécie de antecipação do clima que também se encontra na cidade depois do conflito, entre moradores e índios, no último domingo.

E no sítio reocupado pelos índios Gamela, no povoado de Piraí, cerca de 3km de Viana, o que se percebe é um povo bastante desconfiado com quem chega. Em volta de um rádio, os índios acompanham de perto todas as notícias sobre o eles. Em uma delas, o médico que tratou do índio ferido no braço, no Socorrão II, em São Luís, informa que a mão do indígena não foi decepada, como a mídia havia anunciado.

Um dos índios levanta a voz e contesta: “Não Foi decepada!? Isso é uma mentira!”. Outro reclama: “Esse médico foi comprado”. Um índio levanta, vai até o quarto e volta com um celular na mão, mostrando a foto do índio com a mão pendurada pela pele. “Se isso não foi decepado, se não, eu não sei mais o que é ser decepado!”, revolta-se.
Até a manhã da última quarta-feira (2), apenas o secretário de Segurança do estado, Jefferson Portela, e a Polícia Federal haviam visitado os índios no dia anterior. A Polícia Federal para investigar o caso do ataque, e o secretária para prestar apoio e segurança aos índios Gamela, embora nenhum policial ou órgão de segurança estivesse no local até aquele momento.

Mas o dia estava apenas começando. A equipe de O Imparcial queria conversar com alguma liderança indígena, mas eles não tinham nenhum líder. “Aqui não tem liderança, respondemos por todos”. Na hora de falar com alguém, todos se manifestavam, mas pediram para aguardarmos um membro que poderia falar com a equipe do jornal. Ao poucos, com a presença da reportagem, os índios iam se caracterizando. Um pintava a perna e o rosto de tinta de jenipapo, outro colocava colares no pescoço e cocar na cabeça.

Mistura de raças e a busca da identidade indígena

Em meio a tanta mistura de raças, eram importantes os apetrechos para serem identificados como indígenas. Finalmente, o membro do grupo aguardado chega. Kaaw Gamela quis se identificar apenas com o nome de guerra. Era um dos poucos que tinham traços indígenas. Além das características, kaaw tinha mais esclarecimento sobre os fatos e até mesmo sobre a história dos índios Gamela na região. Para Kaaw, o ataque poderia ter sido evitado, se houvesse interesse do governo federal.

“Na quinta-feira passada (27) nós estivemos na Funai, denunciando que possivelmente a gente iria sofrer ataques e da articulação que estava acontecendo nas proximidades. E, quanto a isso, nós temos certeza que o governo falhou. A denuncia foi feita com um tempo. Poderia se fazer alguma coisa. Em outra ocasião, a denúncia foi feita para o presidente da Funai, em Brasília, com a presença de outros povos indígenas. Não houve interesse por parte do governo federal de frear esses ataques.”

Quanto ao fato das invasões nas propriedades de pequenos agricultores e até de moradores da região, Kaaw nega todos os fatos e atribui essa manipulação aos fazendeiros da região, em colocar a população contra eles.

“Nunca aconteceu, até porque nosso pensamento é que a gente tenha um diálogo com essas famílias. A única coisa que deu errado foi que os fazendeiros os colocaram contra a gente, mas da nossa parte, nem passou pela cabeça da gente o que fazer com essas pessoas que são pobres como a gente. A única coisa que acirrou os ânimos entre nós foi que houve uma incitação por parte dos fazendeiros. Até porque eles não se colocam à frente desta articulação”, denuncia Kaaw.

Perto das 10h da manhã, chegou ao sítio uma comitiva da Secretária de Direitos Humanos e Participação Popular do governo estadual, acompanhado das polícias Civil e Militar. Os agentes de segurança não vieram para proteção dos índios, mas, sim, dos funcionários do estado. Eles fizeram os primeiros levantamentos do ocorrido e ouviram também as reivindicações dos índios Gamela. Era a vez de ouvir os moradores.

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