Alternativa

Conheça as quartas ‘Burgernight’ do Chico Discos

O Imparcial foi conferir de perto os atrativos do local e sua participação no processo de (re)ocupação do Centro de São Luís

Reprodução

Hambúrguer artesanal, bebidas de qualidade e variedade musical – de sons maranhenses à black music americana. Assim é recebido quem vai às quartas-feiras ao Chico Discos, bar localizado no Centro da cidade.

O espaço aconchegante acaba, talvez despretensiosamente, fazendo parte de um movimento de resistência: a ocupação de espaços da Ilha que, até então, encontravam-se esquecidos pelo poder público e pela própria população.

Para chegar ao Chico Discos basta ir de carro ou de ônibus – no segundo caso, é preciso descer na Beira-Mar, praça Deodoro ou partir da Praia Grande. No caminho, o encanto das luzes amarelas fracas e da calmaria pode parecer poético, mas revela um problema estrutural de descaso que, por sorte, tem sido percebido e revertido pelo próprio público que frequenta o local.

CHICO DISCOS

Basta passar à noite pela esquina da rua dos Afogados com a rua São João e escutar os sons do jazz, blues ou MPB vindos do alto de um casarão, para sentir-se tentado a entrar e acabar sendo cativado pelo charme do espaço – decoração e iluminação aconchegantes, música boa e uma variedade de bebidas que surpreende, incluindo inúmeros tipos de cervejas e aguardentes. É assim o Chico Discos.

O bar começou como sebo de discos de vinil, CDs e DVDs localizado na Fonte do Ribeirão, em 2005. Foi em 2010 que o proprietário, Francisco de Assis, o Chico, resolveu alugar o segundo andar de um casarão a poucos metros do primeiro empreendimento.

Chico falou timidamente à reportagem. Não é de muito rodeio, e quando perguntado sobre a possibilidade de expansão do local, surpreendeu: “não pretendo expandir. Na verdade, quero fechar daqui a dois anos. É muito trabalho”. Ele dificilmente recebe eventos, e quando o faz, é geralmente a pedidos de algum amigo – o bar já foi palco de pocket shows, lançamentos de livros e exibições de filmes e documentários.

A programação da casa se resume, rotineiramente, à discotecagem, comandada às terças pelo DJ Marco Antônio e às sextas por Eduardo Júlio. Chico conta que muita gente pede para discotecar, mas ele, ciumento com os vinis, raramente permite. A novidade, trazida em setembro do ano passado, é a noite do hambúrguer às quartas. O espaço foi uma aposta certeira.

Quem frequenta o bar assiduamente, o faz por dois principais motivos: a qualidade do serviço e a paixão pelo centro da cidade. É o caso de Ana Paula Santos, professora universitária, e Ricardo César, administrador. Para o casal, as quartas no Chico Discos são momentos diferentes na semana, e já se tornaram referência no processo de ocupação do bairro. “[A iniciativa] é importante, mas parte muito da iniciativa privada. Falta apoio do poder público, pela questão da segurança, iluminação, para que crie um ambiente mais tranquilo”, comenta Ricardo César. Ana Paula completa: “às vezes a gente chega aqui e fica meio receoso porque as ruas não são bem iluminadas”. Para ela, no entanto, frequentar o bairro, que possui grande potencial por fazer parte da história da cidade, é de suma importância. “No momento que a gente agrega, começa a trazer outras pessoas que às vezes não têm essa convivência aqui no centro”, pontua.

Chico conta que recebe elogios dos frequentadores, que muitas vezes vem de fora, e comenta as preocupações dos clientes relacionadas à insegurança do centro. “Hoje em dia todo lugar tem risco. Algumas pessoas acham que é perigoso, mas tá mudando já. Eu não acho perigoso aqui. Ando sozinho no fim de semana e nunca fui assaltado”, pontua.

BURGERNIGHT

São cento e sessenta gramas de hambúrguer artesanal, pão caseiro, pasta de alho, queijo e três ingredientes do dia: bacon, geleia de pimenta e um ‘blend’ surpresa. O cardápio da hamburgueria que faz parada no Chico Discos às quartas atrai um público fiel e em expansão.

Fazer ‘noites do hambúrguer’ em casas de amigos, em junho de 2016, foi o começo da trilha de Julian Rocha, proprietário da Burgernight e entusiasta da cozinha. A partir de então, ele passou a explorar casas como Massari, Catalana, Seu Guma e Chico Discos – a última parceria surgiu em setembro do ano passado.

“A proposta não é ser gourmet, apenas diferente. Sair do pão com queijo e bacon”, comenta Julian Rocha. São R$ 15,00 que fazem jus ao prato oferecido às quartas-feiras.

A Burgernight também funciona às quintas-feiras no projeto ‘Samba na Fonte’, que acontece na Fonte do Ribeirão, e oferece ao público na ocasião um outro hambúrguer de R$ 10,00. Julian conta que foi criticado ao levar o serviço para o ponto. “[Os moradores] chegaram a dizer que eu estava trazendo a burguesia de São Luís para o centro”, revela. No entanto, o preço do hambúrguer acaba, segundo ele, atraindo mais os nativos do próprio bairro – o que desconstrói aos poucos a crítica feita.

A ideia de Julian é, com o hambúrguer, ocupar espaços públicos para promover qualidade de vida às pessoas. Ele, que sempre teve paixão pelo Centro, considera que a Fonte do Ribeirão é um dos lugares mais importantes e maltratados do bairro. O problema atribui ao local um status negativo frente à população – o que, felizmente tem sido revertido. “Tem gente vindo do Turu, do Cohatrac, do Maiobão para comer nosso hambúrguer, quebrando a ideia de que o Centro é violento. O centro é habitável”, pontua Julian.

A Burgernight faz parada ainda no Odeon Sabor&Arte, às segundas, e no Armazém da Estrela. O projeto agora tem seguidores que se conectam afetivamente com o hambúrguer, e não é por acaso: além do preço justo e do ideal de resistência que permeia o projeto, o que cativa é o sabor único. Até agora mais de 30 ingredientes inusitados foram apresentados aos consumidores, entre eles chuchu e abobrinha crocantes, pepino com gengibre o surpreendente e pioneiro bacuri picante, alvo de elogios dos consumidores.

VER COMENTÁRIOS
Polícia
Concursos e Emprego
Esportes
Entretenimento e Cultura
Saúde
Mais Notícias