ESTILO

Faroeste hollywoodiano toma conta dos filmes pernambucanos

Pelo menos quatro produções do estado são influenciadas pelo gênero: além das paisagens áridas, da violência e das vinganças, filmes trabalham com recursos estéticos clássicos de figurino e montagem

Faroeste Brasileiro

Criado e popularizado por Hollywood, o faroeste é um gênero cinematográfico que ganhou versões nos mais diversos países. Na Europa, a Itália produziu clássicos conhecidos pelo rótulo “western spaghetti”, e aventuras de caubóis também foram narradas na União Soviética (“eastern” e “western vermelho”), no Japão e em lugares como a Coreia e a Austrália.

Nos últimos anos, curiosamente, há um crescente número de produções de bangue-bangue realizadas em Pernambuco. Além dos filmes de cangaço, que naturalmente receberam influência e por isso já foram classificados como “nordestern”, pelo menos três curtas e um longa-metragem rodados no estado recentemente podem ser classificados como variações do western.
É o caso respectivamente de Soledad, João Heleno dos Brito, Irma e Reza a lenda. Além das paisagens áridas, da violência e das vinganças, eles trabalham com recursos estéticos clássicos de figurino, montagem, enquadramentos, movimentações de câmera e trilha sonora.
Irma
É o mais novo representante do faroeste feminino do estado. “Uma mulher poderosa que retorna à cidade natal sedenta por vingar-se do assassino da família”, diz a sinopse do curta, dirigido por Lorena Arouche e Camilla Lapa. A produção é de Pernambuco, mas as filmagens ocorreram na Paraíba. Irma Brown, Pally Siqueira e Albert Tenório estão no elenco. “A gente pensou no gênero western pela semelhança que existe no imaginário sertanejo e sobretudo por questões de posicionamento da mulher no âmbito do gênero e do cinema. Acho bacana posicionar a mulher, emponderando-a num universo machista dentro e fora da ficção”, defende Lorena. Quem quiser pode fazer doações e ser recompensado ao participar do financiamento colaborativo aberto no site Kickante.
Reza a lenda
Dirigido pelo publicitário e cineasta paulista Homero Olivetto, Reza a lenda não é assumidamente um western e tem até características de ficção científica pós-apocalíptica. Pelas imagens do teaser, contudo, já dá pra perceber que o bangue bangue é uma das principais referências do longa-metragem, filmado entre Pernambuco e Bahia, nos arredores de Petrolina e Juazeiro. No lugar dos cavalos, as motocicletas são o principal veículo conduzido pelos personagens, que vivem em uma paisagem onde a água é escassa. Cauã Raymond, Sophie Charlotte, Luisa Arraes, Jesuíta Barbosa e Humberto Martins (o vilão) estão no elenco, e a estreia nos cinemas está confirmada para janeiro de 2016.
Soledad
“Eu estava apaixonada pelo faroeste, principalmente o italianão, quando escrevi o roteiro, mas sempre resisti à maneira como as mulheres são retratadas nos filmes sob um olhar masculino”, observa Joana Gatis, idealizadora e atriz principal do curta Soledad, dirigido junto com Flávia Vilela e Daniel Bandeira. “Era o gênero ideal para uma história de vingança. Eu quis fazer uma personagem que fosse tão forte quanto os caubóis. Isso pode até incomodar os machões que curtem o gênero”, prevê a artista. Com bastante sexo e violência, o curta é praticamente um musical, instrumental, sem diálogos, filmado principalmente em Olinda e Paulista. O ator alemão Peter Ketnath (de Cinema, aspirinas e urubus) interpreta o vilão traidor. A primeira exibição será no festival Janela Internacional de Cinema do Recife, que começa no dia 30 de outubro.
João Heleno dos Brito
“Faroeste buchada” é como o cineasta Neco Tabosa classifica o curta, ambientado no interior de Pernambuco. Por combinar humor e psicodelia com uma linguagem popular, as referências na elaboração do filme fogem da tradição: “Os três amigos, Los três amigos, El Topo (o faroeste existencialista de Jodorovsky), a farofada pop de Jovem demais para morrer (com música tema grudenta de Jon Bon Jovi), os quadrinhos com Jonah Hex (e o rosto desfigurado por machadinha apache em brasa), De volta para o futuro 3 e as gags visuais do Papaléguas (ok, não é faroeste, mas é no deserto) foram as minhas fontes”, assume o diretor. O curta, que homenageia os Beatles (“João Heleno” seria a versão nordestina de “John Lennon”), foi lançado em 2014 no Janela e tem percorrido festivais no Brasil e no exterior. Ganhou prêmio em Toulouse (França).
Na história – Eles já trilharam o caminho do bangue-bangue
Mestre
Simião Martiniano, cineasta pernambucano que faleceu em abril, experimentou o faroeste em pelo menos dois filmes, Traição no Sertão (de 1979, refilmado em 1996) e A mulher e o mandacaru (1994). Os dois filmes, que têm três personagens em comum, retratam duelos entre pistoleiros e fazendeiros.
Cangaço
A luneta do tempo, dirigido por Alceu Valença, é o mais novo filme brasileiro a explorar o universo do cangaço, com inevitáveis influências do western. Baile perfumado, de 1996, marco da retomada do cinema pernambucano, é outro grande representante da temática, que já ganhou até mesmo uma versão em animação de computação gráfica tridimensional com o curta Até o sol raiá (2007).
Presença indireta
O gênero aparece indiretamente em filmes urbanos como O Som Ao Redor, de Kleber Mendonça Filho, Amigos de risco, de Daniel Bandeira, e Cinema sozinho, curta de Maurício Targino. Ambientados no interior, Árido Movie, de Lírio Ferreira, O Auto da Compadecida e Lisbela e o prisioneiro, de Guel Arraes, e Cinema, aspirinas e urubus, de Marcelo Gomes, também têm momentos. Em 1975, os artistas Daniel Santiago e Paulo Bruscky homenagearam o faroeste no curta Duelo, em que duas câmeras se enfrentam. As cenas finais do curta O homem da mata, de Antônio Carrilho, também formam um pequeno western, com o mestre Zé Borba como herói e o cineasta Simião Martiniano no papel do vilão.
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