TEATRO

Cumplicidade entre autor e leitor faz parte da teia construída por Rodrigo Lacerda no livro Hamlet ou Amleto

Shakespeare para jovens curiosos e adultos preguiçosos

 
Rodrigo Lacerda não traz às paginas de Hamlet ou Amleto — Shakespeare para jovens curiosos e adultos preguiçosos os 4.056 versos da obra original. Mas todas as cenas dos cinco atos escritos pelo bardo inglês estão nessa obra. William Shakespeare (1564-1616) comumente provoca o leitor de qualquer cabedal. Seja pela métrica, seja pela engenhosidade da trama, o dramaturgo mais celebrado do planeta é osso para muita gente. Rodrigo vem oferecer ao “espectador” uma versão comentada, em exercício eficiente de provocação. O texto de quase 300 páginas celebra a imaginação e fortalece a cumplicidade entre autor e leitor.
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Até alcançar o ponto de encarar Shakespeare com a liberdade de aplicar “dois ou três cacos”, Rodrigo abraçou outras duras empreitadas na tradução: O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas; Salomé, de Oscar Wilde; O médico e o monstro, de Robert Louis Stevenson; e Palmeiras selvagens, de William Faulkner.
A paixão por Shakespeare veio de um desafio: jovem ainda, quando recebeu a obra completa, em inglês, do dramaturgo, ele se sentiu incapaz de desvendar o presente do pai, o editor Sebastião Lacerda. Tempo passado, Hamlet ou Amleto é obra de quem aprendeu a superar a métrica original do pentâmetro iâmbico. Mais que isso, é exercício de imaginação para atores e não atores, iniciados e iniciantes. Com o auxílio de Rodrigo, nem é preciso amar Shakespeare para ler Shakespeare com gosto.
Ainda que Hamlet esteja entre os textos mais encenados e traduzidos no mundo, o autor consegue alinhavar com riqueza de criação da obra original e, de fato, fazê-la mais atraente ao leitor mais preguiçoso. Na cena em que Laertes, filho de Polônio, está diante do rei, Rodrigo traduz e simplifica:
“Laertes tem um pedido, e o rei, antecipadamente, se diz inclinado a satisfazê-lo, num floreio de bajulação para aliado político nenhum notar defeito:
O cérebro não está mais ligado ao coração,
Nem a mão é mais útil para a boca,
Do que o trono da Dinamarca ao teu pai.
O rei diz isso porque Polônio, o pai de Laertes, não é um conselheiro qualquer. É o conselheiro sênior, o lorde camerlengo, funcionário-chefe da corte e responsável por organizar todas as funções. Manda muito”.Em poucas palavras, o autor-tradutor toma o leitor-espectador pela mão, sem diminuir-lhe a inteligência, e o ajuda na compreensão de pelo menos três personagens: Laertes, Polônio e o rei. Importante destacar que Rodrigo já trouxe Hamlet à cena, desde a primeira página, com habilidade extraordinária para ganhar a freguesia. Pode até parecer atrevimento ler pelo leitor. Não é. As metáforas e a poesia do texto continuam vivas nas entrelinhas de toda a ação dramática. Com algo a mais: um comentarista habilidoso, um guia atento às armadilhas da leitura, que, por vezes, traz auxílio de outros estudiosos da obra. Com o apoio de Rodrigo, ganham-se tempo e clareza na compreensão de tudo o que é movediço em Hamlet.
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