ENTREVISTA

Natalino Salgado faz um balanço sobre sua gestão à frente da UFMA

O médico e professor Natalino Salgado Filho deixa hoje o cargo de reitor da UFMA, após oito anos marcados pela ampliação estrutural e científica da universidade

Foto: Honório Moreira/OIMP/D.A Press.


Honório Moreira/OIMP/D.A Press

Em entrevista a O Imparcial, o professor falou sobre a gestão, a ampliação estrutural e científica da Universidade

Depois de oito anos à frente da Reitoria da Universidade Federal do Maranhão, o médico e professor  Natalino Salgado Filho cumpre hoje, às 18h, no Centro Pedagógico Paulo Freire, na UFMA, o último ritual de encerramento da sua gestão. Depois do termo assinado na última terça-feira, em cerimônia no Ministério da Educação, com a presença do ministro Aluísio Mercadante dando posse à nova reitora Nair Portela, a sessão de hoje na UFMA é um ritual acadêmico feito por todas as grandes academias. Na transmissão do cargo, Natalino Salgado retira as vestes de reitor, bem como os acessórios utilizados enquanto reitor, e as repassa a Nair Portela, sua sucessora, aliada e amiga. 

“Depois de passar toda essa indumentária para ela, retorno às minhas vestes como professor e docente do curso de Medicina da nossa universidade”, completa Natalino Salgado. E para os que ainda têm dúvida sobre se agora ele será candidato a algum cargo político, ele diz que não.
Em entrevista a O Imparcial, o professor falou sobre a gestão, a ampliação estrutural e científica da Universidade, a recuperação de prédios, a expansão da instituição, o aumento do número de alunos matriculados, os planos para o futuro e a vida literária, entre outros assuntos.
E por falar nela, Natalino lançou ontem o livro Tarquinio Lopes Filho: médico, político, jornalista, administrador que virou mito, último ato de Natalino enquanto reitor, uma celebração à sua gestão, segundo ele mesmo afirmou. A obra foi resultado de uma pesquisa de 15 anos realizada por Natalino Salgado. O médico Tarquínio Lopes Filho, nascido em 1885, em São Luís, foi um cirurgião, clínico-geral, ginecologista e sanitarista, que marcou várias gerações de médicos no Maranhão.
“Foi um orgulho para mim, que demorei mais a concluir por conta da minha carreira enquanto gestor, mas que agora pude lançá-lo, exatamente quando estou deixando a Reitoria. Considero um feito”, comemora Natalino.
E o ex-reitor teve muito o que comemorar e agradecer. No discurso de posse da nova reitora Nair Portela, Natalino disse que “quando nos lançamos numa tarefa, no fazer nos fazemos também porque ela trará desafios, testará decisões e escolhas. Assim, olho para trás e tenho aqui comigo a mesma centelha acesa de quando iniciei a jornada nestes últimos oito anos à frente da Reitoria da Universidade Federal do Maranhão. Como resultado, elevamos nossa instituição a um patamar de respeito como nunca antes visto”.
Médico, Natalino Salgado graduou-se em Medicina pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em 1973. Tornou-se mestre em Medicina (Nefrologia) pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em 1987, e, na mesma instituição, concluiu seu doutorado, em 1994. Especializou-se em Clínica Médica, Nefrologia, Didática de Nível Superior, Imunologia e Capacitação Gerencial de Dirigentes Hospitalares durante a carreira. Natalino também é escritor e faz pesquisa resgatando a memória que se tem registrada de médicos brasileiros e seu papel na sociedade, tal como o livro que lançou recentemente. Confira a entrevista.
Como o senhor está hoje ao fim da gestão?
Com o dever cumprido!. Sinto-me aliviado, porque, ocupar um cargo da maior relevância de uma universidade pública federal da dimensão que é a UFMA, é de muita responsabilidade. Ter conduzido um diálogo e ter ido para o embate acadêmico, político, para fazer a maior transformação da história da UFMA, faz me sentir ao mesmo tempo feliz e realizado de ter cumprido essa missão com dignidade, com austeridade, com transparência, e também exemplar do ponto de vista de comprometimento com a educação social e de responsabilidade com uma área tão estratégica como educação, saúde e formar profissionais para servir o nosso estado e nosso país. Foi um trabalho árduo, intenso, que eu dediquei boa parte do meu tempo trabalhando quase 24h, com sacrifício pessoal e familiar e onde usei tudo que aprendi ao longo da minha carreira. Destaco o que tive que reinventar e aprender nesse percurso. Em uma gestão pública compartilhada você soma conhecimento ao crescimento científico, porque você lida com vários saberes. Esse crescimento intelectual é importante para você trabalhar as diferentes dimensões de uma universidade e seu papel social. Saio muito feliz de poder ter servido à minha instituição da melhor maneira possível e de ter mobilizado um conjunto de alunos, docentes, técnicos para um trabalho coletivo.
O senhor sempre desejou ser reitor?
Eu diria que não era meu desejo, embora isso possa ser a aspiração de qualquer docente. Eu estava à frente de uma grande unidade acadêmica que é o Hospital Universitário e lá eu já estava conseguindo realizar também uma grande transformação para ele se tornar uma referência no nosso país, então não era meu propósito. Mas a nossa Universidade passava por uma crise sem precedentes na sua imagem, na falta de autoestima. Uma Universidade que ao longo do tempo tinha se divorciado com a sociedade e do ponto de vista estrutural estava muito comprometida, aí eu fui praticamente estimulado e provocado para essa posição.
Isto aconteceu em um primeiro momento, quatro anos antes, em 2003, mas eu acabei resistindo e não me candidatei. Em 2007 veio novamente essa convocação por parte dos segmentos da nossa Universidade, aí eu não tive como declinar. Não era meu desejo, mas é difícil para quem tem se dedicado ao longo do tempo como docente, pesquisador, exercendo ativamente a função de professor e ter estudado nessa instituição, não almejar isso.
E o senhor conseguiu realizar o que almejava quando assumiu o cargo?
Ao assumir a Universidade tive muito trabalho de repensar e planejar para o futuro. Foi um trabalho árduo, mas aproveitamos também o projeto do Governo Federal de expansão, o REUNI, e a partir daí, nós fizemos um projeto que transformou a Universidade e principalmente a interiorização dela a tornando uma Universidade multicampi com 8 campi no interior. Hoje é a terceira ou quarta Universidade que tem o maior número de campi. Trabalhamos em curso de Licenciatura para formar professores que é um déficit grande em nosso estado, pois a Universidade tem que crescer focada e trabalhada com a necessidade do estado. Trabalhamos também nas áreas de engenharia que também é deficitária no país e também na formação médica ao criarmos dois cursos novos. Não era meu desejo ser reitor, mas a partir do momento em que fui convocado para servir a instituição, a minha avaliação é de que fiz tudo que pensei e planejei. Conseguimos atender nossos objetivos, mas também sabendo que qualquer instituição que trabalha com ciência e tecnologia como a Universidade será sempre uma obra inacabada e inconclusa. Todos que passarem pela Universidade terão que dar sua contribuição.
Dentre outras coisas, consegui que houvesse uma autoestima dentro da Universidade, de todos os servidores, mas da sociedade também que hoje avalia bem a instituição, aplaude e defende a Universidade como um patrimônio público. Conquistar isso, ter essa credibilidade em um país em que se está perdendo a crença, com corrupção, com a política nessa situação, inflação e sem futuro para o nosso país, é um grande feito.
Qual foi o maior desafio que o senhor enfrentou?
Foi primeiro fazer com que a Universidade tivesse um projeto de crescimento em inclusão social e a interiorização foi o nosso forte nisso, porque nós não tínhamos antes. Outro grande desafio foi aumentar o número de cursos novos que atendesse a formação e necessidades do nosso estado, como licenciatura, engenharia e da área médica, criar cursos de caráter inclusivo, como Educação no Campo (Bacabal), Letras e Libras, e o único curso no Brasil que eu criei, de Formação em História da África, curso inédito. Esses cursos promoveram a inclusão social. Tem a questão estrutural, de ter criado espaços acadêmicos, prédios novos, recuperado outros, atendendo demandas acadêmicas, laboratórios, novos ambientes, auditórios. Eu tinha dois slogans: “A UFMA tem pressa” e “Crescer com inovação e inclusão social”, crescer no sentimento de espaço, mas também de conhecimento, e isso nós fizemos. Tivemos apoio das emendas parlamentares. O REUNI correspondia a 40% das verbas e o restante nós fomos buscar com por meio de editais públicos e das emendas. E eles aprovavam as emendas pra a UFMA porque tinham confiança no nosso trabalho. Isso criou uma credibilidade.
Com esses avanços tínhamos que promover uma interação maior com a comunidade. Nós não podemos desenvolver conhecimento se não tivermos a capacidade de ouvir as demandas da sociedade. Dobramos o número de alunos. Quando cheguei aqui nós tínhamos 12 mil alunos matriculados, hoje temos 25 mil, e se incluirmos os cursos à distância e de formação de professor, isso passa para 50 mil. Nossa universidade cresceu também em mestres e doutores. Saímos de 12 mestrados para 35 e de um único doutorado para nove. Nosso corpo docente hoje é de 92% de mestres ou doutores. Passamos de 42 cursos para 98. A Universidade cresceu em tamanho, cursos, ciência, espaços físicos, docentes e discentes.
Sobre o corte de vagas para as instituições federais?
O governo lamentavelmente fez um corte brutal no orçamento das universidades. Para você ter uma ideia, retiraram do nosso orçamento, no ano passado, 36 milhões. E este ano o MEC cortou 50% do capital. Olha, capital significa investimento e com isto a universidade constrói prédios, laboratórios, compra equipamentos e livros. Cortaram mais na área de custeio. Considerando que pela primeira vez a UFMA deixou de receber verba de emendas parlamentares o corte nos anos 2014/2015 totalizam 78 milhões. Isso é uma irresponsabilidade. Hoje todas as Universidades estão com dificuldades de fechar seus orçamentos. As 63 Universidades Federais apresentaram para o MEC o déficit de 1 bilhão e meio no total, mas o MEC está sem recursos. Está atendendo emergencialmente as Universidades para que elas possam fechar o ano.
E a UFMA vai conseguir fechar o ano? Ela tem déficit?
A UFMA tem um déficit operacional. O Ministério, além de cortar, libera a verba a conta-gotas, então atrasa. Ela não está endividada. Tem o recurso, mas o MEC não libera logo, só emergencialmente. O orçamento das Universidades aprovado na LOA pelo Congresso Nacional é o mínimo para a instituição funcionar. Como é que o governo corta? É como se tivesse cortando o leite de uma criança que está sendo amamentada. O governo também cortou o recurso da saúde. O ministro já disse que a situação vai piorar. Tem hospital que está fechando. O Hospital Universitário ainda não parou porque tem uma boa gestão, mas eu não sei se vamos conseguir chegar ao final do ano, todos os ministérios já têm conhecimento disso. O Congresso tem que intervir nessa situação, que é grave. Como é que se corta verba da saúde e da educação, que são serviços básicos para a população?
Quanto às especulações sobre o senhor ser candidato a algum cargo político?
Não serei. É definitivo. Ao longo da minha vida eu tive três profissões: a de médico, a de professor e a de gestor público. Saindo da Universidade, eu retorno para o Hospital Universitário como médico, professor e pesquisador, para as minhas atividades no consultório. Mas eu sempre dediquei maior parte do meu tempo no serviço público e vou continuar colaborando com a Universidade onde se fizer necessário. Tive aprovação em mais de 80% nas pesquisas que foram feitas no meio acadêmico, consegui eleger a minha sucessora, a reitora Nair Portela. Então, saio legitimado de boas práticas de gestão. Também vou me dedicar àquilo que eu gosto: escrever. Acabei de lançar o livro sobre Tarquínio Lopes. Além dele, tem mais três em que estou trabalhando sobre a universidade, outro sobre a minha gestão, e me dedicando ao projeto de 50 anos da UFMA. Vou ajudar para construir a história. Já tenho muitas atividades para fazer (risos). Política? O certo é que não fui contaminado por ela, embora os amigos sempre vejam essa possibilidade de eu entrar nessa área.
Já recebeu convite de partidos?
Tive convite de seis partidos, mas nunca me filiei a nenhum. Não pretendo ingressar na política.
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