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Inclusão: Deficientes visuais tiram fotos em oficina

Cinco alunos do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão participaram da Oficina de Fotografia Inclusiva. Com um clique, eles ensinaram o poder da inclusão

Com apoio da professora do departamento de Comunicação Social da UFMA, Li-Chang Shuen, Fábio descobriu que era possível tirar foto. Sozinho. Cego, ele não acreditava nesta possibilidade até participar da Oficina para Deficientes Visuais. Com a técnica da “Fotografia Inclusiva”, professores da Universidade Federal do Maranhão, Universidade Federal de Santa Maria e monitores “anjos” preparam alunos cegos para a captação de imagens sem ajuda de terceiros.

Origem da Oficina para Deficientes Visuais

“A oficina surgiu de um susto meu. Descobri um dia antes do início do semestre que teríamos um aluno cego. Entrei em pânico, porque não sabia como ensinar fotografia a uma pessoa com deficiência visual”, lembra Li-Chang Shuen.

Mesmo com poucos recursos e um grande desafio, a professora não desistiu do aluno. “Comecei a pesquisar no Google metodologias e referências. Acabei encontrando o trabalho da professora Janaína Gomes. Entrei em contato com ela, que não demorou me responder”, conta Li-Chang.

Professora da Universidade Federal de Santa Maria, Janaína Gomes teve a mesma experiência de Li-Chang. Em 2012, ela recebeu uma aluna cega. Com apoio do Jornalista Teco Barbeiro e do professor Francisco de Lima, da Universidade Federal Pernambuco (UFPE), começou a desenvolver metodologia de ensino especial. Com uso da descrição e do toque, conseguiu ensinar fotografia a essa aluna que, após a disciplina, passou a fotografar sozinha.

Fotografia produzida pelo aluno Ronilson durante a Oficina de Fotografia Inclusiva

“Nós tentamos criar referenciais táteis para explicar a técnica fotográfica. Para isso usamos pirâmides com abertura para que o aluno consiga fazer a fotografia tocando e presumindo a distância que ele tem que estar entre o objeto”, explica Janaína Santos.

O poder do toque

O toque é mais que um costume quando falamos de deficiência visual. É a partir do tato que as pessoas compreendem o espaço em que estão. Para a professora Janaína, a oficina de São Luís trouxe uma rica história. Ela lembra que foi durante as aulas que o aluno Fábio tirou a primeira foto da sua mulher amada. Momento de grande significado. “Temos como premissa dizer que não pode. Nosso sossego e conforto social funcionam naquilo que é padronizado. Isso nos dá segurança. Mas é quando saímos do padrão que encontramos histórias como a de um casal de alunos de São Luís”, comenta a professora sobre Fábio e a esposa Ciane, sua musa inspiradora.

Para Janaína, esse momento serviu para compreensão de uma expressão nordestina: um cheiro. “Eu entendi porque o pessoal do nordeste fala um cheiro. Quando ele tirou a foto dela, ela chegou e deu um cheiro no peito dele. Abraçou e cheirou ele. Foi ai que eu entendi o que era ‘o cheiro’, essa expressão que é muito de vocês”, afirma.

Um aprendizado que ficará para a vida

A experiência do toque na construção da fotografia é um aprendizado que eles irão levar para a vida toda. “Está sendo muito proveitoso. Porque era um conhecimento que eu não tinha. Não podia fotografar os bons momentos, a família. Agora sei que é possível, mesmo não enxergando”, reforça Fábio Costa.

Para a estudante de turismo, Sarah Santos, o último dia foi a possibilidade de realizar o inimaginável. “Fazer aquilo que eu nunca pensei em fazer: fotografar a linha do horizonte”, comenta Sarah.  Para ela a oficina trouxe novas noções de fotografia. “Agora não vou mais precisar pedir pra ninguém tirar foto pra mim. Juntar todo mundo e fazer uma selfie conjunta”, diz a estudante.

Superação

Se para uns apertar o botão da máquina fotográfica e ouvir o clique parece fácil, para outros  é uma maneira de superação. “Não precisamos nos adaptar ao mundo, é o mundo que precisa se adaptar a gente. Mas para isso, temos que dizer como. Então dizer que não consegue fazer alguma coisa não é a saída”, diz Sarah Santos.

Fotografia produzida pela aluna Sarah durante a Oficina de Fotografia Inclusiva

“Eu fico muito emocionada de imaginar que isso que estamos fazendo na vida desses cinco jovens pode significar a permanência deles no curso”,  afirma Li-Chang. Ela ressalta que os cursos de comunicação, Jornalismo e Rádio e TV, são extremamente audiovisuais. “Como você vai liberar um aluno de uma disciplina de foto?”, questiona a professora. “Agora não temos mais essa desculpa, e sim condições de incluir todos os alunos em todas as atividades da disciplina”, diz Shuen, que promete levar os alunos da disciplina de Fotojornalismo para a Chapada das Mesas.

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