ESPORTE INFANTIL

Com reabertura de parques e academias, crianças voltam a praticar atividade física

Especialistas defendem que atividades físicas melhoram a saúde e o desenvolvimento infantil, mas alertam para a necessidade de cuidados redobrados na retomada dos exercícios

Atividade aquática com crianças. Foto: Divulgação

Ir ao shopping, brincar no parquinho, tomar banho de piscina no clube ou abraçar os amiguinhos. Desde o início da pandemia do novo coronavírus no Maranhão, em março, nada disso é possível na nova rotina dos pequenos. Sem sair de casa, as crianças passaram a estudar e brincar no mesmo ambiente: o lar.

O que muitas famílias têm se perguntado é: se a prática de atividade física é saudável para os adultos, por que não seria também para as crianças? Na capital maranhense, muitos pais e mães têm levado os filhos para andar de bicicleta nos calçadões da Avenida Litorânea e do Espigão na Península da Ponta D’Areia, nos Parques do Rangedor e do Itapiracó, por exemplo. Diversas praças, como a da Lagoa da Jansen, também voltaram a ter movimento. Com a flexibilização do comércio, academias especializadas em esportes infantis também voltaram a abrir as portas.

Entre as atividades mais esperadas pelos pequenos, está a volta aos esportes. Vitor Cutrim (9) é apaixonado por futebol e espera ansioso o retorno aos treinos na escolinha que frequenta. “O Vitor já experimentou judô, natação e uma modalidade chamada habilidades motoras, uma espécie de treinamento funcional para crianças. Mas ele ficou mesmo foi no futebol. Já tem dois anos que ele pratica o esporte, quase como profissional, participando dos treinos, torneios, ele é apaixonado e está sentindo muita falta. Quando chega quarta e sexta-feira ele sente mais, porque eram os dias treino. Às 16h ele já começava o aquecimento na sala de casa, já para chegar com todo pique no treino. Algumas vezes, quando terminava a aula, ele ainda pedia para ficar mais tempo jogando com os amigos”, revela o administrador Airson Cezar, pai do torcedor flamenguista.

Vitor jogando bola na porta da casa da vó antes da pandemia

Quem também não vê a hora de brincar com os amiguinhos é a pequena Yanni (6). A mãe, Vanessa Garcia, conta que não tem sido nada fácil controlar os ânimos da filha. “Ela sempre pede para ir brincar no parquinho, tomar banho de piscina e sempre preciso explicar a ela toda a situação. Não me zango, pois, sei que não é fácil pra ela ficar o tempo todo em casa, ainda mais porque moramos em apartamento. Afinal, se é difícil para nós adultos, imagina para a cabecinha das crianças”, conta a administradora.

Yanni em um momento de fotos com sua mãe Vanessa Garcia durante a quarentena

Esporte melhora o desenvolvimento das crianças

A infância é uma das fases mais mágicas da vida do ser humano, não à toa, é nela que acontecem as maiores descobertas e explorações. Movimentar-se e, um pouco mais tarde, praticar esportes é fundamental para o desenvolvimento dos pequenos.

Especialista em desenvolvimento infantil, Tatiana Galli defende a necessidade da criança estar em atividade. “É fundamental que a criança esteja em um ambiente onde, principalmente, seja estimulada nos quatros pilares principais da vida, que são o desenvolvimento motor, cognitivo, social e emocional. Além disso, ela também tem a necessidade de estar em um local onde possa ter uma interação social, auxiliando assim na interação emocional”, pontua.

Especialista em desenvolvimento infantil, Tatiana Galli

Para Edson Alves, professor de Educação Física e proprietário de uma academia especializada em atividades esportivas infantil, mesmo com diversos benefícios, cada modalidade esportiva deve respeitar a idade e os limites de cada criança. “Atualmente, tem sido cada vez mais precoce o início às atividades físicas para crianças de forma lúdica, visando melhorar estímulos e movimentos. A iniciação deve acontecer sempre de forma gradativa e sem cobrança técnica”, destaca.

Na academia de ginástica infantil do professor Edson, as turminhas são reduzidas a cerca de 5 crianças por hora; todos os instrutores usam máscaras de proteção o tempo inteiro; em todo canto, álcool em gel é disponibilizado; há somente 6 cadeiras para os acompanhantes adultos que queiram aguardar o fim de cada aula na própria academia; a ventilação é mecânica, feita com ventiladores, e os janelões permanecem abertos, para arejar o ambiente.

Professor de Educação Física, Edson Alves

Papais e mamães: falta em dobro

O retorno ao esporte e a atividades em grupo não está sendo aguardado com ansiedade apenas pelas crianças. Com a rotina modificada, pais e mães também passaram a ficar mais tempo dentro de casa e a dedicação aos filhos passou a ser ainda maior.

Que o diga a jornalista Dalva Rêgo. Mãe de três filhos, ela precisou se desdobrar para além da atenção, acompanhar as aulas on-line simultâneas dos pequenos. Mas o desafio da jornalista não para por aí; ela ainda precisa encontrar formas para divertir os meninos e liberar toda a energia em dose tripla. “Hoje mesmo vou levar os três para experimentarem uma modalidade de ginástica infantil, pra ver se gostam e gastam um pouco de energia. Porque eles estão com muita energia represada, é pulando no sofá, na cama, assistindo TV de cabeça para baixo, inventando dança, não tenho dado conta. Claro, a escolha da nova atividade segue todos os cuidados necessários para manter a segurança dos meus filhos”, desabafa a mãe.

Jornalista Dalva Rêgo acompanhada por seus três filhos (Vitor, Gabriel e Diego)

Embora reconheça a necessidade das atividades físicas, sobretudo, no momento como o que vivemos, o professor Edson Alves lembra da importância de uma retomada gradual e consciente. “Devemos retornar de forma gradual, com toda segurança, tanto do espaço físico quanto dos equipamentos e profissionais envolvidos”, afirma.

Futebol infantil também está de volta?

Seguindo todos os cuidados necessários para evitar o contágio pela Covid-19, o técnico de futebol Rogério Jansen volta aos poucos com os treinos da escolinha quem mantém em um clube de São Luís “Voltaram apenas os treinos com a turma que irá participar do Go Cup (torneio) em outubro. Os alunos do grupo sub 12,13 e 14 seguem todo protocolo para participar dos treinos”, garante.

Técnico de futebol Rogério acompanhado pelos jogadores do sub 9 (foto tirada antes da pandemia)

O filho de Rogério Jansen, Thalison Jansen, que seguiu os passos do pai e se tornou técnico de futebol, cita alguns cuidados levados com muita seriedade nos treinos juvenis. “Ao chegarem, os alunos precisam estar de máscara e manter o distanciamento. No campo, antes de entrar, os jogadores precisam higienizar as mãos e o solado das chuteiras com álcool 70%, sendo medida a temperatura de cada aluno. Sem contar a redução do número de alunos no campo por categoria”, exemplifica Thalison.

Técnico de futebol, Rogério Jansen ao lado do filho e também técnico Thalison Jansen

Para o pequeno Vitor, o retorno das aulas de futebol para a categoria sub-10 na escolinha ainda precisa esperar, mas quem pensa em ouvir lamentações por parte do pequeno se surpreende com o otimismo do jogador. “É preciso ter paciência e esperança de que vai voltar”, acredita.

Infectologista alerta para cuidados extras no retorno das crianças às atividades físicas

Mesmo sendo aguardada com ansiedade pelos pequenos, a volta à prática esportiva precisa ser cautelosa. Segundo a médica infectologista Silvia Fonseca, todos os cuidados precisam ser adotados nesse retorno, e os esportes com contato direto ainda precisam ser evitados. “O perigo não passou. Apesar de concordar que é muito bom as crianças voltarem à rotina, à prática de esportes ou mesmo ir à escola, a gente ainda não sabe como fazer isso de maneira totalmente segura. Por isso, é tão importante ter cautela ao retomar as atividades, caso contrário, podemos ter uma segunda onda de infecções que pode ser até pior que a primeira”, alerta.

Médica infectologista, Silvia Fonseca

Apesar do número de crianças vítimas da Covid-19 ser baixo, os pais precisam continuar atentos, sobretudo nesse momento de saídas mais frequentes com os filhos. “A crianças normalmente não tem quadros muito graves da doença, mas são importantes vetores. O que isso quer dizer? Apesar de não terem casos muitos graves, elas carregam o vírus no trato respiratório e criança não vai ter o mesmo cuidado com a higiene das mãos e no uso de máscaras que os adultos. Então, a contaminação em grupos de crianças pode ser muito maior e essas crianças vão voltar pra casa dos seus pais, avós e podem disseminar a doença para aqueles que já são mais suscetíveis ao contágio da Covid. Assim, os pais precisam ficar ainda mais atentos no momento da saída e retorno ao lar, tomando cuidado para que as crianças não coloquem a mão na boca e fazendo sempre a higienização correta”, orienta a infectologista.

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