OPINIÃO

Apontamentos sobre a Praia Grande LXXVI

Diferente das demais firmas existentes na Praia Grande, nesse estabelecimento, o do senhor José Diniz, de tudo se encontrava

Em minha última conversa, a da semana passada, estava fazendo um rápido comentário sobre algumas pessoas e firmas que conheci na Rua Djalma Dutra. Lembrei-me que, partindo da Rua de Nazaré, ao atravessar a Rua do Trapiche ou Portugal, deixara para trás o Beco Catarina Mina, como era apelidado esse quarteirão. E, prosseguindo no meu caminhar,cheguei à casa comercial do senhor José Diniz.

Diferente das demais firmas existentes na Praia Grande, nesse estabelecimento, o do senhor José Diniz, de tudo se encontrava. Até mesmo porque ele soube manter o local do armazém à beira das necessidades diárias da vizinhança. Localizado com a frente para a Rua Djalma Dutra e o fundo do prédio para a Casa das Tulhas, estava ali armazenado um bom estoque de mercadorias para atender a todos os gostos e todas as necessidades.

Esclareça-se que o senhor José Diniz fixou o seu endereço comercial, embora na Rua Djalma Dutra, nas proximidades da Rampa Campos Melo. Era onde atracavam os barcos de casco de madeira e velas a panos multicores, que dali partiam e ali chegavam, levando e trazendo grande quantidade de mercadorias e cargas em geral, gêneros de produção do Estado e passageiros de São Luís para cidades interioranas e vice-versa.

Sem dúvida, era bastante comum que os mestres das embarcações cuidassem em mantê-las conservadas e seguras, dado que o mar era bravio e não havia razões para se submeterem aos caprichos do imprevisível. Daí o permanente movimento da casa do senhor Diniz, que, de fato, do melhor oferecia aos seus clientes específicos, justo aqueles que dia e noite navegavam pelos mares e rios adentro. Nada como revisões constantes no corpo das embarcações, levadas a efeito em tempo oportuno, isto é, quando, pelas circunstâncias do calendário, fossem mais apropriadas.

E ninguém melhor do que o senhor José Diniz para atender à demanda de tanto e tão diversificado material usado no dia a dia e aplicado por ocasião dos consertos, constituíssem estes um serviço rápido ou prolongado. Nãomenos para aparelhamento das embarcações. Assim, cordas, manilhas, âncoras e correntes de ferro,piche para calafetagem, óleo de mamona, querosene, pregos, parafusos, rebites, enfim, o que fosse necessário para atender à necessidade dos barqueiros, com certeza não faltava na casa comercialdaquele homem que passava a todos um sentimento de simpatia, calma eleveza de espírito.

Mas o estabelecimento comercial do senhor José Diniz era muito mais amplo em sortimento, do que está relatado no parágrafo anterior. Desse modo, vendia também cachaças, conhaques e outras bebidas alcoólicas, fumo, açúcar, café em grãos, machados, patachos, facões terçados e tudo o mais que se pensasse, sem dúvida ali seria encontrado, sem falar no atendimento gentil e rápido, embora a arrumação das mercadorias parecesse necessitar de melhor organização.

Com o objetivo de bem situar o leitor, aproveito para esclarecer que a casa do senhor José Diniz era contígua a um dos portões da Feira do Comércio ou Casa das Tulhas, o que lhe propiciava excelente fluxo de clientes. Também, para lembrar que ela, a Feira, oferecia acesso, quando construída, através de quatro entradas, destacadas por portões distintos, um em cada parte do quadrilátero, que era a forma arquitetônica de sua construção.   Ocorre que aqueles situados na Rua Portugal ou do Trapiche e no Beco da Alfândega ou Travessa Marcelino de Almeida, desapareceram por encanto, permanecendo apenas os que proporcionam a entrada pela Rua Portugal ou do Trapiche e pela Praça Fran Paxeco, encravada na Rua da Estrela ou Cândido Mendes.

Vale a pena falar um pouco sobre essa obra construída pela Companhia Confiança Maranhense, ou melhor, sobre a parte interna, buscando pinçar o que hoje seria interessante conhecer, além do chafariz inglês que existia e que também tomou algum rumo não sabido. É que no interior da Casa, em posição central, havia um imenso jardim, plantado para deleite dos ocupantes ou passantesdaquele logradouro. Deu-se que, por desleixo da administração pública foi desaparecendo esse ambiente de lazer e em seu lugar construído um galpão arredondado e avarandado, resultado da indiferença ou omissão de governos irresponsáveis e descomprometidos com a cidade.

Em face de intervenções diversas como essa, o prédio chamado Casa das Tulhas foi aos poucos se descaracterizando. O tal galpão arredondado, comentado no parágrafo anterior, foi dividido e subdividido entre diversos pequenos proprietários que ali compravam e vendiam o que lhes aprouvesse, tais como perus, galinhas, patos e pintos; ovos, mocotó, caruru; peixe frito,  seco, salpreso;  carne de sol, tiquira, catuaba, doce de espécie, farinha d’água, seca, de bolo, de goma e mais o que calhasse. Até caldo de cana, feito na hora, na frente do freguês. Também, em uma ou outra barraca o famoso queijo de São Bento. E assim continua até hoje.

Bem, me pareceu interessante esse passeio rápido pela Feira do Comércio. Pelo menos deve ter servido para aguçar o apetite de alguém, face à variedade de oferta de produtos comestíveis. Mas, é de se recomendar muita cautela, pois a humanidade está vivendo uma fase virótica, talvez sem precedentes.   Isto, entretanto, é outro assunto, que ainda servirá para uma breve conversa aqui nesse nosso encontro dominical.

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