OPINIÃO

Apontamentos sobre a Praia Grande LXXIV

A Rua 28 de Julho ou Rua do Giz sempre foi muito interessante, tanto para quem nela viveu como para quem buscou estudá-la, no contexto da formação e do uso desse espaço urbano colonial.

Para atender solicitações de amigos e leitores foi que acedi em dar continuidade à divulgação dos meus Apontamentos sobre a Praia Grande. Mas, como já disse, eu o farei de modo pontual, isto é, escolhendo esta ou aquela rua para referir-me a uma ou outra firma nela estabelecida, ao tempo em que mourejei nesse então famoso bairro comercial.

Semana passada, com o primeiro passo nesse sentido, dei sequência ao meu relato, fazendo menção à Rua 28 de Julho ou do Giz, voltando-me para a firma Ferreira Irmão & Cia. Aproveito, agora, para lembrar que nessa mesma rua, espremida entre as João Gualberto e Marcelino de Almeida, antigo Beco da Alfândega ou – se assim não for entendido- que se chame Beco do Dezenove, existia um pequeno prédio, em que se achava instalada uma gráfica cujo nome de fantasia era Tipografia Freitas. Esse imóvel, adquirido pelo senhor Armando Gaspar, de repente pegou fogo ao ser desocupado e, por questões estranhas, o Prefeito negou a concessão do alvará para sua reconstrução. Também nunca o desapropriou. Por fim, usando do poder e da força, as autoridades municipal e estadual resolveram fazer do local uma pequena praça, que lá está, sem a menor utilidade prática.

Continuo com foco na mesma artéria, referenciando a sociedade Batista Nunes & Cia. Ltda., que tinha como principais integrantes apenas os senhores Antônio da Silva Borges e Abel Pereira da Conceição, ao que me parecia. Logo passei a saber que o fundador da empresa havia sido o senhor João Batista Nunes, também conhecido como João Psilander, àquela altura dos anos cinquenta, do século passado, residente em Travassô, Aveiro, Portugal, todavia a ninguém indaguei se ele ainda compunha a sociedade.

Pois bem, aos poucos fui tomando conhecimento, através de comentários, que os senhores José dos Santos Lima e Antônio Courtinhas, cada um já redimensionado em sua atividade comercial, teriam também sido sócios da firma Batista Nunes & Cia. Ltda. O certo é que, à minha percepção de empregado do comércio, a pessoa mais importante dessa instituição privada era o senhor Antônio Borges, até mesmo porque o seu sócio Abel Pereira da Conceição costumava passar temporadas em Portugal.

Sem fugir ao que era comum, a sociedade tinha como objetivo a compra e venda de estivas e miudezas, bem como comissões e consignações. Em tempos pretéritos, consta que teriam sido dos maiores atacadistas desta capital. Participavam de eventuais acordos com firmas congêneres, com vistas a comercializar, em inimaginável quantidade, determinado produto que, em face disso, era adquirido por menor preço, cuja vantagem repassavam ao varejista e melhor se posicionavam no mercado, porquanto essa espécie de política comercial refletia na venda substancial e mais lucrativa de outros produtos.

Ainda conheci, trabalhando na firma Batista Nunes & Cia. Ltda., como sócios ou auxiliares de destaque e grande competência, os amigos Orlando Pinheiro Gomes e José Eduardo Pereira de Almeida sem contar José Tércio Borges, filho do senhor Antônio Borges. Tenho a impressão de que a mudança deste último, titular da firma, para o Rio de Janeiro, foi o marco definitivo do encerramento das atividades de Batista Nunes & Cia. Ltda.

A Rua 28 de Julho ou Rua do Giz sempre foi muito interessante, tanto para quem nela viveu como para quem buscou estudá-la, no contexto da formação e do uso desse espaço urbano colonial. Sem rebuscar o traçado inicial ela nasce na Rua de Nazaré, seguindo em frente, escadaria abaixo, até alcançar o Convento das Mercês. Em toda essa extensão, dentre as ruas que ela cruza, ressalte-se a Direita ou Henrique Leal, pois é nessa altura que ela muda de feição. Talvez seja possível afirmar que, de onde ela começa, da Rua de Nazaré, até a Rua Direita, há uma expressiva quantidade de sobradões de dois e até três pavimentos.

 Vale lembrar que em um deles funcionou o velho Banco do Maranhão, que desapareceu por falta de condições para respirar os novos ares do capitalismo moderno. Regra geral os prédios desse nível ou aproximado, tinham o piso ocupado pelos armazéns e a parte superior por residências dos seus proprietários, pensões residenciais ou “repúblicas” dos empregados do comércio. O local onde funcionou a firma Batista Nunes & Cia. Ltda., por exemplo, adquirido por um estrangeiro que resolveu fixar residência em São Luís, foi utilizado como uma espécie de pousada. E muitos outros sobradões ali existentes tiveram essa ou semelhante finalidade.

Entretanto, ultrapassando a Rua Direita, a arquitetura já obedece a outra característica. Há predominância de casas, todas de meia morada ou de morada inteira, prédios menos vistosos, muito embora um deles, onde funcionou a famosa Pensão da Maroca, por certo foi construído obedecendo a uma manifestação artística de bom gosto, traduzida na fachada que ele oferece ao visitante.

Embora 28 de Julho tivesse sido, por muitos anos, uma data comemorativa, pela adesão do Maranhão à independência do Brasil, ao propor e aprovar esse nome para substituir o antigo, Rua do Giz, o camarista Antônio Henriques Leal nem de longe teria imaginado que essa faixa entre a Rua Direita e o Convento das Mercês seria ocupada, muitos anos depois, pela “zona do baixo meretrício”. Assim é conhecida essa área porque nela se instalaram vários cabarés que, de fato, mesmo considerada por muitos como antros de perdição, eram eles lugar frequentado por intelectuais, empresários e profissionais liberais, principalmente.

Há copioso material, portanto muitos episódios interessantes, que possam ser contados a respeito desta parte da Rua 28 de Julho, mas não é esse o conteúdo real dos meus Apontamentos, até porque já foge aos limites da Praia Grande, na opinião de alguns historiadores.

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