DIREITO LGBTI+

Gays doam sangue pela primeira vez no Maranhão

Em sinal de comemoração pela recente decisão do STF, trio de ativistas LGBTQI+ foi reunido ao Hemomar

Pamella Rocha fez a primeira doação de sangue da vida dela. Foto: Divulgação

Esta semana, Pamella Rocha fez a primeira doação de sangue da vida dela, aos 35 anos de idade, mas não por falta de vontade de doar antes. É que, por ser travesti, Pamella não tinha o direito de exercer esse ato de amor. Ao chegar ao Centro de Hematologia e Hemoterapia do Maranhão (Hemomar), Pamella sabia que estava prestes a participar de um momento histórico para a comunidade LGBTQI+ maranhense. Nesse momento, vários sentimentos foram aflorados.

Pamella, que é técnica de enfermagem, foi acompanhada por uma mulher e um homem – ambos homossexuais – fazer a doação sanguínea. O objetivo da ida conjunta do trio ao Hemomar foi comemorar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que derrubou a restrição à doação de sangue por homens gays. Assim, Pamella se tornou a primeira travesti a doar sangue no Maranhão.

“Esse veredito significa muito para todos nós, já que agora podemos exercer o nosso direito como cidadãos e cidadãs. Estamos felizes por ter conseguido derrubar mais uma barreira. Agora, podemos fazer esse gesto de amor, que é ajudar o próximo com a doação de sangue”, celebra Pamella.

A restrição

Considerados inaptos a doarem sangue por serem classificados como “grupo de risco”, principalmente após a epidemia da Aids em 1980, homens gays só conseguiram ser doadores de sangue em 2002. Porém, desde que passassem um ano sem ter relações sexuais com outro homem, restrição que dificultava e constrangia quem queria fazer o bem.

“Quando você doa seu sangue, você se sente um pouco herói porque sabe que está contribuindo para salvar a vida de alguém”, comenta a ativista trans Lohanna Pausini, que é jornalista.

Conquista histórica

A restrição, que foi derrubada com a maioria dos votos (7 a 4), é um marco não só para a comunidade LGBTQI+, mas também para os hemocentros de todo país, que desperdiçavam 18 litros de sangue por ano, em decorrência da norma de base considerada preconceituosa, de acordo com os dados levantados pela Organização das Nações Unidas (ONU). Agora, com este novo passo, o Hemomar já espera um aumento significativo no número de bolsas de sangue que serão coletadas por dia.

“Só vamos perceber o incremento nos estoques com o passar do tempo, já que a decisão foi recente. Mas esperamos um aumento, por isso estamos divulgando nas redes sociais que já estamos devidamente preparados para acolher os candidatos à doação, que, até então, não tinham a oportunidade de exercer esse direito e dever de cidadania”, afirma João Batista Carvalho, médico da Direção Técnica do Hemomar.

João Batista Carvalho, médico da Direção Técnica do Hemomar

Novos protocolos

Para atender a esse público específico, o Hemomar já reformulou o questionário de triagem clínica, permitindo que a lei seja colocada em prática.

“Para a seleção de candidatos à doação de sangue, a Hemorrede Nacional adota um conjunto de critérios estabelecidos pela Portaria do Ministério da Saúde. Até a decisão do STF, um desses critérios era bastante restritivo para os candidatos à doação de sangue, do sexo masculino, que tivesse tido contato sexual com indivíduos do mesmo sexo. Ao responder positivamente a essa pergunta, o candidato ficava em inaptidão temporária, a partir do último contato sexual, por 12 (doze) meses. E foi exatamente esse critério que o STF julgou inconstitucional”, esclarece João Batista.

O médico e diretor do Hemomar também destaca que alguns protocolos continuarão sendo executados. “Continuam valendo os critérios que avaliam o comportamento sexual dos candidatos à doação de sangue, para preservar a segurança. Assim como ter entre 16 a 69 anos, pesar mais de 50kg e estar em boas condições de saúde. A Hemorrede Estadual do Maranhão já adequou o procedimento de triagem clínica de acordo com a decisão do STF”, destaca o médico.

Reconhecimento

Dando mais um passo na longa caminhada em busca do reconhecimento e fim do preconceito, a decisão do STF é mais uma vitória na luta diária em busca dos direitos humanos.

“É uma grande conquista na luta pelos direitos humanos. É um reconhecimento que, de fato, somos todos iguais diante da Constituição independente da nossa diversidade”, defende a ativista Lohanna Pausini.

Ativista Lohanna Pausini

Para doação de sangue, os voluntários podem agendar pelo WhatsApp (99162-3334) ou se dirigir ao Hemomar ou aos Hemonúcleos no interior do estado.

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