ADEUS A EPITÁCIO CAFETEIRA

“Madre Deus está triste”, lamenta admiradora

O ex-governador foi enterrado na manhã desta terça, 15, em São Luís. Dezenas de pessoas compareceram ao local para o último adeus

Foto: Petronilio Ferreira

“Hoje a Madre Deus está triste, chorando por ele, sentindo saudades dele…”. A frase da dona de casa, Estela Maria, é finalizada com olhar distante e uma grande pausa. Com olhos marejados, ela deixa transparecer a saudade que sente do ex-governador Epitácio Cafeteira, falecido neste domingo, 13.

Assim como Estela, dezenas de pessoas foram dar o último adeus ao ex-governador. Era claro o semblante distante das pessoas. Muitos pareciam não acreditar que o “político do povo” estava em seu momento final. Outros, aproveitavam para eternizar os feitos de Cafeteira movendo as memórias distantes da infância.

“Pra mim ele foi um pai que São Luís ganhou”, afirmou Júlia da Luz Pinheiro. Com 77 anos, ela confessa que Epitácio foi muito importante para as comunidades menos favorecidas. “Ele ajudava muito as comunidades, principalmente na época das crianças e Natal”, lembra. Para o trabalhador José Firmino, o legado do ex-governador é o cuidado com essa população. “São Luís ia até Monte Castelo. Ele foi quem abriu estradas”, recorda.

Foi na política que ele marcou muitos. Com músicas marcantes, Cafeteira unia bairros em prol de uma ideia. “Na minha rua todo mundo era Cafeteira”, lembra Teresinha Ferreira. Ela conta que em todas as eleições a comunidade se engajava pelo político. Todos se reuniam e pintavam as ruas as cores do político. “Nós não vemos mais isso hoje em dia”, critica dona Júlia.

Um político do povo pelas novelas

Foto: Petronilio Ferreira

Em 1986 a novela Cambalacho conquistava o coração dos brasileiros. Com 96 pontos de audiência, Silvio de Abreu se consagrava como um dos principais escritores de telenovela durante a abertura política. Sem a perseguição da censura, a novela mostrava em trama simples a política brasileira afundada em escândalos de corrupção e falcatruas.

Na mesma época, Epitácio Cafeteira assumia ao Governo do Maranhão, como primeiro governador a alcançar 1 milhão de votos no estado. Números impressionantes que deram a ele o título de “político do povo”. Durante os discursos, para se aproximar do povo, o governador não hesitava em usar as novelas de destaque para que fosse melhor compreendido.

O senhor Torquato Barros lembra bem dessa época. Segundo o funcionário público, o caráter populista do político foi além do discurso. “Ele conversava com todo mundo. Tomava cafezinho no centro”, lembra. “Ele era o governador da lama. Cansei de ver ele limpando as ruas, cavando buraco”, lembra o trabalhador José Firmino.

De onde vem cafeteira?

Foto: Petronilio Ferreira

Segundo o sobrinho, Rogério Cafeteira, a origem do apelido vem do irmão. “Durante um questionamento na sala perguntaram qual o nome do pé de café. Na hora, o irmão dele levantou a mão e disse que era cafeteira. Aí foi uma risada e o apelido ficou”, conta. Segundo Rogério, na época o político assumiu o nome de Cafeteirinha. “Foi com a morte precoce do irmão que ele foi aos poucos virando Cafeteira”, afirma.

Mas para a dona de casa Maria Helena, a origem do apelido é diferente. Tremendo e ainda abalada com a morte de Epitácio, confidencia que foi ela quem deu o apelido. “Minha mãe estava desempregada, vi que precisava sair para conseguir dinheiro”, lembra. Com papel e caneta, escreveu a mão o currículo, enrolou na caneta para não amassar, e saiu com um vestido surrado. “Foi quando eu ouvi dizer que eu deveria ir ao Filipinho, porque Café ia me dá um emprego”, comenta.

Helena, ainda menina chegou a casa de Cafeteira, e foi surpreendida com a hospitalidade de Cafeteira. “Ele me ajudava muito. Todos os dias ia na casa dele pegar o dinheiro que ele separava para mim e os pães”, recorda. Segundo a dona de casa, Epitácio queria adotar ela. “Eu nunca mais fui na casa dele com medo de ele me tomar da minha mãe. Mas depois descobri que ele se encontrava com ela as escondidas e deixava dinheiro pra mim”, diz.

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