OPINIÃO

Leia ‘A flauta e a pena’, do jornalista Sebastião Jorge

Os jornalistas e músicos, o ignoram, além de outros pesquisadores

Adelman Correa, guarde este nome, faz parte da história do jornalismo e da música maranhense. Os jornalistas e músicos, o ignoram, além de outros pesquisadores. A sociedade deve-lhe serviços prestados, pela coragem na denúncia do desvio de dinheiro público, atos de violência e outras falcatruas. O resgate chegou em boa hora, com apoio da Academia Maranhense de Letras – AML, por um dos seus membros atuantes, o médico Natalino Salgado
O personagem era advogado, professor de alemão do Liceu, dono de cartório, músico e versado em literatura e ciência do Direito. Tinha mais qualidades: apaixonado pela escrita e pelo som da flauta, que tocava divinamente.

Manejava a caneta, substituída pela pena, com o ardor das convicções e por defendê-las pagou um preço alto.
Ao penetrar nos segredos do instrumento predileto, exibindo-se em particular ou em público, após treinamentos intensivos, nesses momentos, esquecia os revezes do dia a dia e vivia momentos de êxtase. Conseguia afastar profundas mágoas e as ameaças dos poderosos inimigos. Alimentava o sonho de ser um virtuose pelo som que extraia da flauta. Fez várias excursões por cidades brasileiras. Granjeou fama, aplausos e críticas favoráveis, enaltecendo o dom que Deus lhe deu e ele o aperfeiçoou. Chegou à Europa, e não passou ignorado em Paris, ao apresentar-se.
Bem-sucedido no jornalismo, tornou-se um panfletário temido, atacando sem disfarce de pseudônimos, comum nos séculos 19 e 20, logo quem… O governador Godofredo Viana, pouco avesso a livre manifestações de pensamento. Esta autoridade, tornou-se conhecida pelos castigos leoninos que impunha aos que discordavam das ideias e da linha ideológica do seu partido.
Muitas vítimas sucumbiram em plena Praça João Lisboa, depois de surras a cacete aplicadas ou ferimentos com arma branca. Adelman Correa, por denunciar as arbitrariedades, violências e desmandos do governador, levou cadeia e a família entrou no rol dos perseguidos. Os sicários viviam aterrorizando-a batendo à porta altas horas da noite ou mesmo de dia, com mensagens ameaçadoras.
O jornalista, trabalhava como editor do jornal Diário do Povo, de propriedade do amigo e correligionário político, Tarquínio Lopes, outro médico famoso profissionalmente e ligado à política, com viés socialista. Adelman deixou pela experiência, um rico legado ao contar a sua história no livro autobiográfico, “Os meus dias de cadeia / Origem e memória”, lançado em 1926. Uma segunda edição vem de ser publicada, em dezembro do ano passado. Trabalho meticuloso, coube a tarefa, a um médico talentoso, ligado à literatura, acadêmico Natalino Salgado Filho. A obra, na segunda edição, faz parte da Coleção Documentos Maranhenses, da AML, sob os auspícios da Lei Estadual de Incentivo à Cultura e com o patrocínio, merecedor de mérito, da empresa Mateus.
A obra no rico painel ataca sem meias palavras a Godofredo Viana e mostra que o jornalismo não é feito apenas de flores e perfume ou de – secos e molhados – no dizer do famoso jornalista e filósofo do humor, Millôr Fernandes.
Adelman conta o que sofreu na prisão e na vida particular, pelo ódio que devotava o governador à sua pessoa. Irritou-se por tirá-lo a máscara e mostrá-lo quem verdadeiramente era. E tudo fez contra o bravo jornalista que denunciou os desvios de conduta daquela autoridade e sua tendência de governar pelo sistema autocrático. Adelman (1884-1947) não perdoava e como redator principal do jornal Diário do Povo, castigava:
“Foi péssimo administrador, assaltou as arcas do tesouro pelas janelas, enquanto com as suas más ações, com os seus execrandos exemplos, auxiliava a investida aos cofres públicos pela sua corte desonesta e prejudicial” (…). Assim, a caneta castigava ao som da flauta, deixando em polvorosa o seu adversário político. Daí os desatinos.

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