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Re(o)cupa: ocupação criativa

De portas e janelas abertas, prédio Re(o)cupa no Centro Histórico fincou bandeira e abriga ideais, sonhos, possibilidades, inquietações, arte e resistência

Reprodução

Um sobrado com fachada de azulejo e faixas nas sacadas se destaca entre tantos outros ali na Rua Afonso Pena, próximo ao antigo Ferro de Engomar. Resistência Cultural Upaon-Açu, ou Re(o)cupa. Mas reocupar o quê? Arte, ideias, expressões, pensamentos, coletividade, troca, é o que dizem os artistas residentes, idealizadores e sonhadores do espaço, acreditando que juntos, numa força coletiva, é que se consegue transformar o mundo.

Fomos verificar que espaço é esse que há nove meses está na cena cultural. A que ele veio e a que se propõe. Ao subir os degraus da escada de acesso ao segundo piso, o visitante já percebe as grafitagens nos degraus. Nas
paredes, o trabalho do artista Leandro Bender, a intervenção Risco, e nos portais, uma cortina de fuxico parece dar as boasvindas ao visitante. Pinturas, esculturas, livros, cartazes, quadros, fotografias, objetos diversos.

Em cada espaço, a casa se apresenta com uma decoração de encher os olhos dos mais atentos. A colaboração de várias mãos tornou o ambiente digno de admiração. E o detalhe: a maioria, ou quase todos os objetos ou foram frutos de doação ou foram reciclados, reutilizados, “re-significados” para estarem ali.

Pinturas, esculturas, livros, objetos diversos. Um tonel, que poderia ser jogado fora, vira mesa e um carrinho
de supermercado rapidamente se transforma em estante. E assim, pouco a pouco, o espaço ganhou uma cara nova, um local que tem visitação todos os dias com shows, oficinas, ensaios, reuniões, apresentações, recitais, cursos, workshops. Um local ocupado com ideias.

Nayara Melo, Deuza Brabo e Kadu Vassoler: Uma maranhense, uma paraense e um paulista são os responsáveis pela Casa. Ou melhor dizendo, estão. Porque na concepção deles, o espaço deve ser compartilhado até mesmo com os que queiram cuidar deles um dia. Eles não se sentem donos do espaço e também não o utilizam para fins lucrativos. O especial de tudo é a troca.

“O espaço é vivo. Nossa ideia é que ele fique, se estabeleça e outras pessoas possam passar por aqui. A vida segue”, aponta Deuza Brabo. “O Re(o)cupa é uma vivência social. A casa não é nossa. A gente só administra. Outra coisa, não tem como ser só nós três. Sempre tem alguém envolvido, tem a energia de alguém aqui”, completa Kadu referindo-se também às pessoas que doaram mão de obra ou objetos, móveis.

Kadu veio de São Paulo com o ideal de construir algo parecido com o que já ocorre em São Paulo. “Com menos consumo, troca, espaços para os artistas se apresentarem, coisas que tem em São Luís, mas que de uma forma ou de outra acaba com uma lacuna que é a de reunir essa galera”, conta.

O que há

A entrada no local é gratuita a partir das 15h. O espaço só não funciona dia de sexta-feira. A pessoa ou grupo tanto pode ir para ler livros, fazer reunião (há um cômodo separado), ou simplesmente aproveitar para passar o tempo. Mas logo aviso que é impossível ficar lá e não querer explorar cada pedacinho do sobrado, chamados de O Mercado das Pulgas, A Casa Fala e Rangar.

Então, no Re(o)cupa há espaços como Rede da Gratidão, onde uma rede de futebol pendura vários artigos de vestuário, serve para estabelecer a troca. Ao mesmo tempo em que uma pessoa retira o que quer, deixa algo. Em vários espaços há artigos de brechó. Livros também podem ser adquiridos e/ ou trocados.

O salão principal, espaço de shows, é muito bem ornado. No outro, fica a pequena lanchonete Rangar, que apresenta
comida vegana. No andar de cima fica o fumódromo, uma varanda supercharmosa decorada com intervenção de Will Barros.

E falando em lanchonete, lá as pessoas podem levar lanche para consumo próprio, mas a exigência é o não uso de materiais descartáveis, como copos, por exemplo. Há um espaço específico para quem levar o seu e quiser deixá-lo lá, mas não é só isso. Há uma ideologia por trás.

“A gente não quer apenas que as pessoas não utilizem copo descartável somente aqui, mas em lugar nenhum. A gente quer que as pessoas andem com seus copos para todos os lugares. É uma questão de consciência e é o nosso principal ideal”, aponta Deuza.

Palco aberto

Diversos artistas e grupos já passaram pelo Re(o)cupa. Os shows artísticos são livres e gratuitos também tanto para quem ocupa o espaço, quanto para quem assiste. Quase todos os dias há alguma apresentação. Para colaborar com o artista um vaso (assim como se passa o chapéu) é destinado para o público que geralmente contribui com o que acha que o show merece.

Assim, Beto Ehongue, Nathalia Ferro, Luiza Brina, Marcos Lamy, Paulão, Luciana e Seus Camaradas do Samba, DJ Pedro Dread Locks; Tieta Macau; Maratuque Upaon- Açu, Sulfúrica Bill, Coletivo Gororoba, entre outros, foram alguns dos inúmeros artistas que marcaram presença por lá.

“Nós nunca fizemos nenhum evento que custasse mais do que vinte reais. A gente não cobra, mas incentiva essa relação de troca. Não é só comprar, consumir, é trazer ideias, propor qualquer coisa envolvendo arte, cultura e sociedade”, diz Kadu.

Espaço colaborativo

O Re(o)cupa é um espaço plural, aberto para as mais diversas manifestações artísticas e que traz novas perspectivas
culturais para o coração de São Luís. Segundo os idealizadores, através da ação colaborar, experimenta-se novas possibilidades, novos horizontes e inúmeras experiências.

Nesses 9 meses muita coisa já foi realizada, mas ainda faltam algumas, segundo Kadu. “A ideia do Re(o)cupa é fazer com que ele seja uma extensão das ruas, como se fosse uma praça. E a gente queria ocupar as praças, mas para isso a gente precisa de braços. Queremos trocar com algumas comunidades, o que ainda não foi possível. A gente quer chegar um pouco mais para que as pessoas percebam, entendam e procurem. Não queremos engessar esse espaço, queremos que outras pessoas ocupem também”, espera Kadu.

Re(o)cupa canto a canto

Mercado das Pulgas

Falando de economia criativa, como pode-se minimizar os impactos do consumismo exacerbado, direcionando
peças em bom estado e baratas para serem reaproveitadas por novos usuários . Livros, Cd’s, discos, fotos, artes plásticas e todas as formas de cultura Semi novos para consulta e vender.

Rangar

Espaço
onde são comercializadas comidas vegetarianas e veganas, contribuindo para uma alimentação mais saudável e menos cruel. Feira orgânica com agricultores da baixada, fugindo dos agrotóxicos e transgênicos. Valorizando e encurtando a distância com o pequeno produtor.

A Casa Fala

Paredes, janelas, Tetos e portas abertas para artistas exporem. Residência artística, minifeira de livros, Saraus, encontro literários, oficinas diversas, cineclube, debates sobre os mais variados temas e definição de ações para reocupar a ilha e diminuir seus muros.

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