Memórias

Perda na pandemia: a dor do luto de famílias no Dia das Mães

Conheça histórias de famílias que perderam mães durante os últimos meses.

As cantoras e compositoras Carol Cunha e Ana Tereza perderam a mãe, Isabel Cunha, no último dia 8 de janeiro para a Covid-19. (Foto: Arquivo Pessoal)

Há mais de um ano vitimando pessoas e dizimando famílias, a pandemia deixa rastro de tristeza por onde passa. Todos perderam com a pandemia. Maridos ou esposas perderam seus cônjuges, mães e pais perderam seus filhos, filhos perderam pais ou mães.

Até o fechamento desta reportagem, o estado tinha 271.266 casos de Covid-19 confirmados e 7.473 mortos em decorrência do vírus. Foram vidas que se foram e sonhos interrompidos, que deixaram na vida terrena, parentes e amigos desolados. Desse total, 40% eram mulheres, muitas talvez já fossem mães.

Neste Dia das Mães, parabenizamos todas pelo seu dia, ao mesmo tempo em que lamentamos que para muitos filhos e filhas, o fato de não tê-las mais presencialmente vai tornar esse dia marcante para sempre. Lamentamos as mais de 7 mil vidas perdidas no estado.

As cantoras e compositoras Carol Cunha e Ana Tereza perderam a mãe, Isabel Cunha, no último dia 8 de janeiro para a Covid-19. Isabel tinha 65 anos e era a alegria da casa, segundo Carol. Cantora, compositora e instrumentista, Isabel preenchia a casa com música.  Ela passou 24 dias internada, desses, 21 dias intubada. Completou 65 anos no hospital e lutou muito, pois não queria morrer. Foi o que contou Carol.

Ainda no ano passado, a comemoração do dia das mães foi a distância, via vídeo, já por causa das medidas de restrição, isolamento, distanciamento. “Estávamos querendo manter ela segura, por conta do vírus. Este ano mamãe não está mais aqui. Mamãe que era uma grande artista, que preenchia toda a nossa casa de alegria, de cantoria. Minha mãe tocava violão, cavaquinho, teclado, ukulele…, minha mãe era a alegria em pessoa. Com certeza, será um dia das mães bem triste para mim e minha irmã Ana Tereza, porque nós éramos muito unidas com a nossa mãe, assim como será um dia das mães triste para muitos filhos deste Brasil e do mundo inteiro”, disse Carol.

Mamãe que era uma grande artista, que preenchia toda a nossa casa de alegria, de cantoria. Minha mãe tocava violão, cavaquinho, teclado, ukulele…

Embora seja um dia difícil para a família, Isabel será homenageada com o que ela mais gostava: música. “Eu vou cantar. Vou cantar para ela, vou cantar as músicas que ela gostava de ouvir e de cantar com a gente. Eu sei que mamãe está num lugar lindo, está no paraíso, porque mamãe era uma pessoa muito boa, e ela só pode estar num lugar lindo com Deus. Eu vou cantar muitos louvores, muito samba, que ela gostava de ouvir, para a gente se manter conectada nesse dia das mães, como sempre estivemos, porque, na verdade, essa conexão nunca morre, porque é a conexão do amor. E eu digo a você, filho que ainda tem a sua mãe, cuide dela, mantenha o distanciamento social, não espere sentir essa dor que eu sinto, que a minha irmã sente, para você entender o quanto é sério, o quanto esse vírus é perigoso e devastador”, pediu Carol Cunha.

“Nossa mãe era o pilar da família”

Nelma Chagas Leite tinha 75 anos faleceu no dia 15 de fevereiro, vítima da Covid-19. Internada na UTI por 48 dias, ela não chegou a saber que, dias antes, um de seus 6 filhos, Elson José Chagas Leite, de 52 anos, havia falecido, no dia 27 de janeiro, também vítima de Covid.  Agora, a família, ainda muito abalada, tenta superar a dupla perda em menos de um mês.

“Minha mãe era uma pessoa hilária, forte, extrovertida, super gente boa, de personalidade forte: quando queria, queria mesmo! Uma pessoa nobre, de uma bondade sem fim, um coração muito nobre. Ela representava a pessoa que era o pilar da casa, pessoa que a gente sempre podia contar. Aquela pessoa que se você tava errado, dava bronca mesmo, assim como elogiava quanto tinha que elogiar. Mãe, amiga, parceira, sempre disposta a ajudar. Nossa mãe representava uma guerreira, uma mulher maravilha, uma fortaleza enorme, um porto seguro”, disse emocionado, Romildo Chagas, um dos 5 filhos.

Romildo lembra que infelizmente sua mãe foi uma das mais de 422 mil mortes provocadas pela Covid-19, junto com meu irmão. E que o dia das mães vai ser difícil para a família, que sempre foi muito unida e gostava de estar sempre em volta da mãe.

“É aquele vazio que a gente sente, aquela falta… graças a Deus, muitas famílias estarão comemorando, assim como também vamos ver muitas chorando, sentindo falta desse vazio que não pode mais ser preenchido. Tenho certeza que não vai ser fácil para nenhum de nós, porque graças a Deus somos unidos, nos amamos, nos encontrávamos bastante em datas comemorativas, por conta da minha mãe que gostava, e hoje isso está fazendo muita falta”, lamenta Romildo.

Elson José era o filho que morava com dona Nelma e era quem cuidava dela. A perda dos dois mexe muito com a família. “É uma dor enorme, porque estávamos acreditando que ele ia sobreviver, por ser mais novo, cheio de vida, apesar de ter lúpus, mas ele também se foi para essa doença maldita, depois de passar 30 dias na UTI. Foi muito complicado, perdemos um irmão, nossa mãe nem soube porque estava intubada. Foi o cara que cuidou muito dela, devemos muito a ele. Foi um guerreiro. Logo em seguida, veio a morte da nossa matriarca, foi muito doloroso, coisa que não desejo para ninguém. Essa doença veio para devastar famílias. Está sendo uma barra”, diz Romildo, com tristeza.

Ela representava a pessoa que era o pilar da casa, pessoa que a gente sempre podia contar. Aquela pessoa que se você ‘tava’ errado, dava bronca mesmo, assim como elogiava quanto tinha que elogiar. Mãe, amiga, parceira, sempre disposta a ajudar. Nossa mãe representava uma guerreira, uma mulher maravilha, uma fortaleza enorme, um porto seguro.

O dia das mães sem eles

Se para um filho ficar sem a sua mãe querida é uma dor inimaginável, o que dizer das mães que perderam seus filhos? Não é a ordem natural das coisas, costumamos dizer. Pais e mães não estão preparados para enterrarem seus filhos.

Dona Aldenise Rocha Barrozo, 67, quis eternizar a história de seu filho Murilo Barrozo, falecido aos 37 anos, em decorrência de complicações respiratórias ocasionada pela Covid-19, em Caxias, no dia 24 de março.

Murilo era o segundo filho do casal Anízio Evangelista e Aldenise Rocha. “Muito novo, porém longos anos em complicações, já sem demonstrar alegria em viver, por enfrentar uma das piores doenças do século, depressão. Mesmo sem vontade de viver, lutou bravamente contra outro mal que o levou para os braços de Deus. Assim foi Murilo, um jovem que lutou por toda a vida contra a depressão, mas que sucumbiu à pandemia que se iniciou no Brasil no ano de 2020”, lamentou a mãe.

Suelen Silva Ferreira, de 35 anos, faleceu em 2020. Filha de dona Benedita e mãe de Guilherme, de 11 anos, estava grávida de oito meses e contraiu Covid-19. Internada na UTI, perdeu a bebê, Giulia, ao sétimo dia de hospitalização. Dois dias depois da filha que carregava, chegou seu momento de se despedir da vida. “Na arte, nos doces, na família e com os amigos, uma pessoa inesquecível. ‘A vida imita a arte’, Suelen sempre dizia. E sorria, ao final da frase. Amava as artes, era professora da área e bem-querida por seus alunos. Sua vida, que imitava a arte, não será esquecida”, disse em depoimento, a irmã, Sueny Andressa Silva.

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