Paixão pelo carnaval em miniatura. Assim pode ser definida a exposição virtual “Bonecas em Destaque – Uma homenagem a personalidades do carnaval brasileiro”, idealizada pelo pesquisador e artista visual maranhense, Enoque Silva, que transformou bonecas em verdadeiras obras de arte que chamam a atenção pela riqueza de detalhes.

Com a suspensão do carnaval em todo o país e dos tradicionais desfiles de escolas de samba por conta da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), Enoque Silva, que é um apaixonado pelo carnaval, idealizou a exposição que homenageia grandes ícones da maior festa brasileira no campo virtual.  Ao todo serão 50 bonecas que fazem parte deste desfile virtual que pode ser apreciado por todo mundo por meio do perfil do artista @enoqueosilva no Instagram. Em cada peça da exposição vem o nome do homenageado, o tema da fantasia, além fotos, textos e vídeos sobre a personalidade que levam a assinatura do pesquisador e fotógrafo, Rivanio Almeida Santos.

O projeto independente. Criado, produzido e realizado com recursos próprios, idealizado por Enoque Silva pode ser considerado uma verdadeira declaração de amor aos destaques de fantasias de luxos das escolas de samba do Rio de Janeiro, São Paulo e São Luís que levaram o glamour e a riqueza  para as passarelas do samba.  Segundo Enoque Silva, esta foi a maneira que ele encontrou de compensar distanciamento social para os amantes da fantasia de luxo do carnaval por causa da pandemia.  Cada peça produzida por ele pode levar cerca de uma semana a quase dois meses para ficar pronta, e que tudo depende da complexidade e do material usado para confeccioná-las. “Existe uma variação de acordo com o tema, do material e da pesquisa. No mínimo uma semana. No máximo um mês a um mês e meio”, explicou Enoque Silva, ressaltando que o maior desafio é adaptado material escolhido à anatomia das bonecas.

Entre as personalidades maranhenses que serviram de inspiração para o artista estão o  pedagogo Benedito Basílio Gomes Filho é maranhense e conhecido por Biné Gomes. O Abinokó do Terreiro de Iemanjá, como também é conhecido entre os que cultuam as religiões de matrizes africanas.  Admirador dos trabalhos de Evandro de Castro Lima e Joãosinho Trinta iniciou 1979 desfilando em alas das Escolas de Samba de São Luís e desfilou em várias Escolas de Samba como a Turma do Quinto, Unidos de São Cristóvão, Unidos de Fátima e Favela do Samba. Desfilou na cidade até 1994 quando, convidado por Chico Coimbra, foi para o Rio de Janeiro desfilar pela Unidos da Ponte em enredo que homenageava a cantora Alcione, sua conterrânea. Nas escolas cariocas compôs o quadro de destaques da Estácio de Sá, Vila Isabel e Grande Rio.

Outra homenageada da exposição foi a cantora maranhense Alcione, que para quem não sabe é presidente de honra da Escola de Samba Mirim Mangueira do Amanhã e que já foi enredo nas escolas de Samba cariocas Independentes de Cordovil (1989) e Unidos da Ponte (“Marrom da cor do samba”,1994 – nesse enredo que seu conterrâneo Enoque Silva estreou como Destaque no Rio) e, em São Paulo, da Mocidade Alegre (2018).

Emoção de representar o Maranhão

Enoque Silva também fez uma boneca especial para Manuel de Jesus Barbosa, travesti e transformista. o conhecido destaque das escolas da ilha, Barbosinha e da comunidade LGBTQIA+ por Bárbara Strass que desfilou em todas as Escolas de Samba de São Luís. Também participou dos Concursos de Fantasia em todos os clubes sociais da época – Iate clube, Casino Maranhense, Lítero, Jaguarema, Araçagy Praia Clube – e ainda levou sua arte às competições dos hotéis Quadro Rodas, Vila Rica e São Francisco. Também foram homenageados, Aldo Leite, Tácito Borralho, João Mendonça Ewerton , Brasa Santana, Reynaldo Faray,  Itamilson Lima, Joãosinho Trinta entre outros. Entre os destaques as personalidades nacionais da exposição estão: Tânia Índio Do Brasil, Dona Ivone Lara, Clóvis Bornay Edilza Serafim, Geraldo Pontes, Dona Dodô da Portela, Evandro de Castro Lima, Sandra Farias, Nelcimar Pires, Olegária da Silva Santos, Milton Cunha entre outros.

Contemporâneo do carnavalesco, estilista e figurinista maranhense Francisco de Sousa Coimbra Neto, o Chico Coimbra, e amigo do também carnavalesco João Clemente Jorge Trinta, o Joãosinho Trinta, Enoque Silva, foi homenageado em 2016 com o samba-enredo “Enoque Silva: cisne dourado do lago joãopaulino” pela Turma de Mangueira, na Passarela do Samba, Anel Viário. Sobre a emoção de desfilar nas escolas de samba do Rio de Janeiro, Enoque Silva, faz questão de ressaltar que é maranhense e representa o seu estado há 26 anos na passarela do maior espetáculo da terra que é a Marquês de Sapucaí e  que quando está desfilando retribui a todos com sorrisos, acenos e gestos de carinho, ressaltando que essa é a grande cena e mágica do carnaval.

Conhecendo Enoque Silva

Maranhense, nascido em Pinheiro e criado no centro de São Luís, Enoque Silva de 52 anos muito cedo pôs em prática suas aptidões para trabalhos artísticos manuais em especial o que diz respeito à alta costura. Assim com as noivas veio o aperfeiçoamento no bordado e formas, que mais tarde seriam muito úteis na finalização das grandes fantasias.

Em 1979, ingressa no Laborarte, Laboratório de Artes Cênicas, e logo é convidado para trabalhar com grupos de teatro onde realiza figurinos, cenários, adereços e até pequenos textos para alguns espetáculos.  Inspirado por pesquisa e sugestões dos desfilantes e clientes, Enoque desenvolveu trajes nas categorias Luxo e Originalidade, masculino e feminino, tendo como palco a passarela do Samba e os salões dos clubes Lítero, Casino, Jaguarema, Araçagy Praia Clube e Clube Jacaré, este em São José de Ribamar. No mesmo ano sua vida como destaque de escolas de samba iniciou na Escola Pirata do Samba, já extinta, usando a fantasia ‘O Paraíso’, o enredo tratava a vida e obra de Erasmo Dias. Posteriormente desfila suas criações na Turma do Quinto, Favela do Samba, Flor do Samba e Unidos de Fátima.

Em meados dos anos 80, levado por Chico Coimbra, inicia sua trajetória nos Blocos Tradicionais Os Foliões e Os Tremendões. Mais recentemente cria roupas para Os Feras, Os Indomáveis, Os Diplomáticos, Os Brasinhas, Os Reis da Liberdade, Os Vampiros e o Bloco da APAE.

Nesta fase de sua carreira, Enoque proporcionou grandes mudanças no conceito de fantasias  deste segmento cultural. Quando desaparecem os espaços de desfiles em São Luís, ele buscou outros palcos no Rio de Janeiro, em 1994. Apresentado ao carnavalesco Washington Luís pelo amigo e mestre Chico Coimbra, Enoque é convidado a desfilar na Unidos da Ponte, no Rio de Janeiro, que naquele ano estava prestando uma homenagem a cantora Alcione Nazaré. De lá pra cá já se exibiu na Unidos da Ponte, Vila Izabel, Estácio de Sá, São Clemente e Grande Rio, escola que ele participa até hoje, na função de Destaque Principal.

Estudioso e pesquisador do tema Carnaval, o artista prefere trabalhar temas culturais, tem predileção pela categoria luxo e gosta de tudo que já produziu em seus mais de 30 anos de estrada. Além disso, diz que deve tudo que é ao Carnaval e tem como ídolos Joãozinho Trinta e Chico Coimbra, que serão sempre os seus mestres e referências para o crescimento profissional. Atualmente é o segundo principal destaque da Escola de Samba Grande Rio, no Rio de Janeiro, Funcionário Público do Estado do Maranhão.