RELIGIÃO

Campanha da fraternidade gera divergência entre grupos da igreja

A celebração de lançamento será neste sábado, 20, às 17h, no Santuário Nossa Senhora de Nazaré, no Cohatrac

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“A única unidade que nós buscamos é Cristo. Como Igreja nós não buscamos unidade de pensamento, pelo contrário, nós acreditamos que Deus é um Deus que se manifesta na diversidade. Agora essa diversidade precisa buscar uma unidade. Também não é proposta da Igreja atender uns e desatender outros, como muitos insistem em dizer. Até o cartaz da Campanha da Fraternidade deste ano nos mostra isso: formas diferentes, perspectivas diferentes, mas para que eles encontrem beleza eles precisam se unir”. A fala é de Delso de Jesus Cardoso, Coordenador Arquidiocesano de Campanhas, de São Luís, sobre as discussões em torno do tema da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021.

“Agora essa diversidade precisa buscar uma unidade. Também não é proposta da Igreja atender uns e desatender outros, como muitos insistem em dizer. Até o cartaz da Campanha da Fraternidade deste ano nos mostra isso: formas diferentes, perspectivas diferentes, mas para que eles encontrem beleza eles precisam se unir.”

A CFE traz como tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” e foi anunciada no último dia 17, pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic).

Em São Luís, a celebração de lançamento será neste sábado, 20, às 17h, no Santurário Nossa Senhora de Nazaré, no Cohatrac, em ato restrito por causa da pandemia de Covid-19, e será presidida pelo arcebispo metropolitano de São Luís, Dom José Belisário da Silva e concelebrada pelo coordenador Arquidiocesano da Ação Evangelizadora e Missionária e pelos Vigários Forâneos.

Realizada pela CNBB todos os anos no tempo da Quaresma, período de 40 dias que antecede a Páscoa, esta é quinta edição ecumênica da campanha, que congrega diversas denominações que compõem o Conic, como: Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Presbiteriana Unida, Aliança de Batistas do Brasil, com o objetivo de valorizar as riquezas em comum entre as igrejas.

Mas desde que foram anunciados tema e lema, o assunto foi levado à discussão. A interpretação do texto-base ganhou formas e posicionamentos variados de pessoa tanto de dentro quanto de fora da Igreja, ao reprovar a “negação da ciência” durante a pandemia de Covid-19, criticar a atuação do governo federal no combate ao coronavírus e igrejas que não respeitaram o distanciamento social. Além disso, o documento citou números da violência contra mulheres, negros, indígenas e pessoas LGBTIQ+.

De acordo com texto da Rádio Itatiaia, em Juiz de Fora (MG), o arcebispo metropolitano Dom Gil Antônio Moreira orientou as igrejas da arquidiocese a não utilizar o texto-base da Campanha da Fraternidade. Em comunicado, o arcebispo argumentou que “neste ano, houve uma grave falha com relação ao texto-base que tem provocado séria polêmica, por apresentar conceitos duvidosos em relação à doutrina social e à moral cristã, sendo a autora adepta de correntes morais não aceitas pela Igreja Católica e nem por grande parte dos nossos irmãos evangélicos.”

“Neste ano, houve uma grave falha com relação ao texto-base que tem provocado séria polêmica por apresentar conceitos duvidosos em relação à doutrina social e à moral cristã, sendo a autora adepta de correntes morais não aceitas pela Igreja Católica e nem por grande parte dos nossos irmãos evangélicos.”

O cerne da campanha deste ano está no convite à reflexão para identificar caminhos de superação das polarizações e violências que marcam a sociedade atual. Segundo o padre Pablo Neves, da Igreja Sirian Ortodoxa em São Luís, é interessante ressaltar que o significado da participação das igrejas em um evento como este é que elas se descentralizam dos seus problemas particulares para se encontrarem nas carências, demandas e clamores das pessoas que, na verdade, são comuns.

Texto teve aval da CNBB

Escrito por membros do Conic, com o aval da direção-geral da CNBB, o texto cita crimes contra minorias e a relação com posicionamentos conservadores. “Algumas igrejas reivindicaram o direito de permanecerem abertas, realizando suas celebrações, apesar das aglomerações causarem contaminações e mortes”. Em outro ponto, sobre a violência, diz: “estes homicídios são efeitos do discurso de ódio, do fundamentalismo religioso, de vozes contra o reconhecimento dos direitos das populações LGBTQI+ e de outros grupos perseguidos e vulneráveis”. Quanto ao poder público no combate à pandemia, o texto-base diz: “o governo brasileiro não adota políticas efetivas no combate à Covid-19”, e que a pandemia “dilacerou famílias e deixou espaços vazios na cultura nacional”.

Para Delso de Jesus, há dois fatores que explicam os ataques à Igreja, o olhar individual sobre as questões e a falta de entendimento do texto completo da Campanha. Ele diz que esta é a 57ª edição da Campanha e em todas elas sempre há grupos que se manifestam contrário ao tema, e quando se trata de uma campanha ecumênica, os ataques são ainda maiores pela falta de entendimento do que é uma campanha ecumênica.

“Os temas das campanhas propõem um olhar para nossa realidade a partir do evangelho, e ainda tem muitos dos nossos irmãos que são fechados para questões individuais da fé. Ainda não perceberam, inclusive, que o próprio mandamento de Cristo nos convida: não posso amar a Deus sobre todas as coisas, se eu não amo o meu próximo como a mim mesmo. A CFE é um texto feito por todas as igrejas. Se nós buscamos a unidade, nós vamos ter que buscar um diálogo que ouça todas as vozes, e tem muita gente que ainda está fechado para o diálogo, achando que somente aquela voz, aquela experiência de fé a qual ele professa, é verdadeira”.

O segundo ponto apontado por ele, é o recorte que está sendo feito do texto, ressaltando aspectos pontuais. “Tem-se um texto belíssimo e apenas 1 ponto que fala sobre o acolhimento, a escuta das pessoas que são LGBTQI+. Isso gerou um certo descontentamento de algumas pessoas que entendem que nós não devemos acolher esses nossos irmãos. A única pontuação que o texto base faz nessas questões é dizendo que nós devemos ouvir esses nossos irmãos, que devemos acolhê-los no sentido de acolher a humanidade que há em cada um deles e convidar para o diálogo fraterno. É somente essa a questão. Então, alguns radicais da fé, algumas pessoas que não conseguem olhar além dos muros para estabelecer pontes, se fecharam a essa questão e começaram a atacar a nossa igreja”.

Delso de Jesus diz que sempre que a campanha convida a uma atitude concreta, provoca celeuma. “Alguns grupos ultraconservadores que tem dentro da nossa Igreja, se dizem Igreja, mas acabam não tendo uma comunhão com a própria Igreja. Nós queremos de fato fazer com que essa campanha provoque um diálogo que seja, acima de tudo, um testemunho de fé”.

“Alguns grupos ultraconservadores que tem dentro da nossa Igreja, se dizem Igreja, mas acabam não tendo uma comunhão com a própria Igreja. Nós queremos de fato fazer com que essa campanha provoque um diálogo que seja, acima de tudo, um testemunho de fé.”

Sobre o viés político que a discussão enveredou, especialmente nas redes sociais, Delson diz que é necessário um conhecimento mais profundo sobre essa questão. 

“As pessoas estão tentando politizar coisas que não estão nesse âmbito. O grande problema é que as pessoas acabam tendo um conhecimento muito superficial das coisas, porque política, a acepção política na sua essência, é o bem comum. Se o evangelho é boa noticia e busca a vida em abundância, então é uma proposta de bem comum para todos. Infelizmente, a Internet é um lugar que sob pseudônimo todo mundo pode falar o que acha que deve falar. A nosso ideia de fato é dar um testemunho profético de fraternidade e caridade”, finalizou.

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