SÃO LUÍS

Mortes entre jovens representa 50% dos homicídios em julho

Quinze jovens com idades entre 14 e 29 anos foram mortos no último mês de julho, na Grande São Luís, vítimas de crimes violentos

Reprodução

“É muito duro você perder um filho tão jovem. Meu filho tinha 20 anos. E ele se foi por causa de uma briga boba em um bar. As pessoas não têm mais sensibilidade, não têm mais respeito, não têm amor”. O depoimento é da empregada doméstica que quis se identificar apenas como Maria, de 44 anos, que teve o filho assassinado no ano passado. Ela é uma das muitas mães que ficam sem seus filhos ainda jovens vitimados pelos mais diversos motivos: assassinados, mortos no trânsito ou suicidados.
Quinze jovens com idades entre 14 e 29 anos foram mortos no último mês de julho, na Grande São Luís, vítimas de crimes violentos. Esse número representa 50 por cento dos casos de homicídios no mês passado, segundo estatística da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão. Duas mortes dentro de instituições para medidas socioeducativas e um suicídio completam o trágico quadro da violência na Ilha.

Esses dados só refutam o estudo global sobre óbito de adolescentes publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no último mês de maio. Estima-se que 1,2 milhão de adolescentes morrem por ano no mundo, o que indica a impressionante cifra de três mil mortes a cada dia.

No caso do Brasil, a OMS revelou que, dentre as maiores causas de morte dos jovens de 10 a 19 anos no país, estão os acidentes de trânsito, que ocupam a segunda posição. A principal causa de óbito é a violência interpessoal (com 43% dos óbitos). Afogamento, leucemia e infecções respiratórias completam a lista de principais causas dos óbitos. No caso dos jovens na faixa de 15 a 19 anos, violência interpessoal (assassinatos, agressão, brigas, bullying, violência entre parceiros sexuais e abuso emocional) e acidentes de trânsito continuam, nessa ordem, indicando as principais causas de morte precoce.

O relatório publicado pela iniciativa Mapadaviolência.org.br mostra uma situação preocupante. “A principal vítima da violência homicida no Brasil é a juventude”, afirma o documento nacional. Um dado que assusta.

O Atlas da Violência 2017 também aponta o Maranhão entre os estados com crescimento no número de homicídios superior a 100% e em sétimo lugar no número de mortes decorrentes de intervenção policial. Em todas as situações, o estado aparece entre os dez mais violentos do Brasil. E está em décimo lugar no número de homicídios, por faixa etária de 15 a 29 anos, entre as 27 unidades da Federação (2005 a 2015).

De jovem para jovem

“Nos somos uma organização de jovens que trabalha com jovens e para jovens”. Foi assim que definiu a Pastoral da Juventude (PJ) o professor e secretário arquidiocesano Vicente de Paula Campos, de 22 anos.
A Pastoral da Juventude é uma organização nacional, que tem ramificações das diversos regionais da CNBB, Dioceses, Paróquias, Comunidades, e enfim, em todos os ambientes onde estão os jovens.

Em São Luís, há mais de 30 anos, centenas de jovens se dedicam ao bem-estar de outros jovens. “O jovem é o protagonista. Nós não atuamos só na igreja. Vamos para a comunidade, para onde o jovem está e precisa. E é nesse meio que o jovem tem oportunidade de se conhecer, de conhecer o outro, se entender, entender o outro e, a partir daí, crescer e respeitar o outro. Trabalhamos pela juventude em todas as dimensões: política, educacional, social”, aponta Vicente.
Lá, nos trabalhos da pastoral, a violência também é uma preocupação, e nesse sentido eles estão presentes em todas as ações que dizem respeito à segurança pública, como as escutas territoriais, que realizam análise do mapa da violência e sucessivas discussões sobre o que fazer para melhorar a situação dos jovens que estão mais propensos à escalada da violência.

Projeto Jovem Guardião

Dentre as políticas públicas de socioeducação voltadas para a juventude, está o projeto Jovem Guardião da Fundação da Criança e do Adolescente (Funac), em parceria com a Pastoral da Juventude da Arquidiocese de São Luís, criando oportunidades aos egressos do sistema socioeducativo.
O impacto desse projeto na vida dos adolescentes que cumprem medida socioeducativa nas unidades da Fundação da Criança e do Adolescente tem sido positivo no sentido de acompanhar/apoiar o jovem egresso no retorno à sua comunidade de origem, por meio da construção de um novo projeto de vida.
“É a oportunidade deles se ressocializarem e não serem mais reincidentes. Assim, a gente contribui com menos violência e mais óbitos no âmbito da juventude. Estamos ali para apoiá-lo, para ajudar e trazer ele de volta à sociedade”, afirma Vicente.

Para a presidente da Funac, Elisângela Cardoso, o Jovem Cidadão é um projeto fundamental para que os internos retornem para a sua própria comunidade enfrentando os desafios e riscos que eles tinham antes. “Nós entendemos que esse é um projeto que representa um sinal de esperança, considerando que nós precisamos ter redes fortalecidas que possam dar o apoio aos jovens para que eles, após cumprirem suas medidas, não venham a regredir”, realçou.

As ações do Jovem Guardião são realizadas desde julho de 2016, nas unidades de internação da Funac da região metropolitana de São Luís, por mais de 90 jovens de nove paróquias da capital, sempre aos fins de semana, com atividades lúdicas, dinâmicas, bate-papo, para que os adolescentes que cometeram ato infracional possam refletir sobre a sua trajetória de vida para construir um novo começo, a partir de uma experiência positiva de juventude e, disto, fortalecer o seu vínculo familiar e comunitário.

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