Becos & Telhados

Becos com nomes curiosos em São Luís

Ganhando nomes curiosos ou que se referem a coisas ou a pessoas, os becos de São Luís são desconhecidos ainda de grande parte dos moradores .

Reprodução

Se você costuma andar, trilhar mesmo, pelo Centro de São Luís, vai saber do que estou escrevendo. Se não tem esse hábito, ou não sabe por onde pisa, vale a pena conhecer sobre o que vai ser abordado aqui nesse texto.
Beco da Bosta, Beco do Quebra-Bunda, Beco do Caga-Osso… Calma! Não se trata de nenhum texto escatológico, mas para falar de alguns dos becos de São Luís que ganharam nomes curiosos, em geral pelo que ocorria neles em épocas distantes, ou por iniciativa dos próprios moradores da cidade que, para facilitar a localização, usavam fatos do cotidiano. Embora muitos passem despercebidos, eles estão ali, e é provável que você já tenha passado por alguns deles diversas vezes, mas não tenha se atentado para aquele pedaço da história.
A maioria deles se encontra no Centro Histórico de São Luís. Beco do Quebra-Bunda, do Caga-Osso, Feliz, Deserto, da Bosta, Escuro, do Panaca, do Prego… Os nomes são os mais variados.
Em seu mais recente livro, Becos & Telhados (2018) – à venda na Livraria Amei, Shopping São Luís -, o historiador, professor e pesquisador Antônio Guimarães de Oliveira faz uma “saga imagética”, conforme diz o historiador e presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Euges Lima.

“Desta vez, os Becos, tão antigos e impregnados de história, presentes no imaginário e na tradição ludovicense, muitos surgidos nos primeiros séculos de formação da cidade, com nomes tão pitorescos e curiosos que se tornaram uma importante marca toponímica de São Luís, são o carro-chefe desta tão aguardada obra”, diz o historiador.
Segundo o autor, “não é fácil contar a história de uma rua, de um logradouro ou de quem nela morou, teve um comércio ou uma simples mercearia”.

O livro começa com o Beco Catarina Mina, também conhecido como Rua da Calçada, Ladeira da Calçada ou Rua Djalma Dutra. O beco começa na Avenida Pedro II (Largo do Palácio) e termina na travessa da Alfândega (Rua João Gualberto), nos muros da Câmara Municipal. Ele nascia na Praia do Acaju, à beira do mar, correspondendo à entrada lateral do palácio. O beco tem 35 degraus em pedras Lioz e cantaria do século XVII.
No local, funcionaram várias casas de alfaiataria, comércios e bazares. O logradouro tem esse nome por causa da escrava Catarina Rosa Ferreira de Jesus, que, segundo consta, após conseguir fortuna, pagou pela sua liberdade e tornou-se proprietária de imóveis e senhora de escravos. Ela teria morado em um dos imóveis do beco (sobrado atualmente pintado da azul). A Casa de Cultura Huguenote Daniel de La Touche, inaugurada em 8 de setembro de 2014, funciona em um casarão que pertenceu a Catarina Mina.

Beco da Bosta
Também chamado de Beco do Zé Coxo, Beco da Baronesa ou Travessa 28 de Setembro, a rua estreita se estende da Praça Antônio Lobo, onde fica a Igreja de Santo Antônio, a Rua de Santo Antônio, segue até a Rua do Egito, passando pela lateral da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. O prédio onde funciona o Centro de Artes Cênicas do Maranhão (Cacem) serviu de moradia à Baronesa de São Bento. Travessa 28 de Setembro foi em homenagem à data quando ocorreu a sanção da Lei do Ventre Livre, promulgada em 1871, e considerada livre todos os filhos de mulheres escravas nascidos a partir da data da lei.

“Segundo os historiadores, ganhou o nome de Beco da Bosta porque era o local por onde passavam os tigres ou cabungos, escravos que carregavam os tonéis com excrementos de seus senhores para serem despejados no mar. Os tigres, devido aos excrementos escorrerem sobre seus corpos e ficarem com listras amareladas sobre suas peles. O beco era passagem dos escravos quando iam jogar na maré as vasilhas, com os excrementos dos seus senhores”, diz o livro Becos & Telhados.

O depósito dos excrementos diretamente na maré era a única forma de esgotamento sanitário existente aquela época em São Luís. Hoje restou só o nome. A rua em nada lembra a movimentação da época dos escravos e suas idas e vindas com tonéis de excrementos.

Beco da Alfândega
A concentração dos primeiros armazéns alfandegários da Ilha, originou o nome do logradouro pelo qual, até hoje, ainda é chamado.
O beco passou a ser chamado de Travessa Marcelino Almeida por determinação de uma Lei Municipal de 1924, em homenagem a um comerciante que se destacou pelo pioneirismo na exportação de amêndoas de babaçu.

Beco da Prensa
É a continuação da 14 de Julho, que também recebeu o nome de Rua da Relação. Ficou assim conhecido porque no prédio, aberto por João Gualberto da Costa, existiu uma prensa de algodão.
Conforme reportagem de O Imparcial de 26 de agosto de 1975, o senhor Estevão Mariano Soares, de 105 anos de idade, que possui um imóvel naquele beco, disse que lá existe um sobrado onde a Dona Ana Jansen colocava os seus escravos, com os quais negociava posteriormente. O beco é uma área residencial e chama a atenção pela arquitetura do lugar.

Beco do Caga-Osso

Ou Beco da Lapa ou ainda Beco do Convento, se estende da lateral do Convento das Mercês, cruza a Rua do Dique ou Rio de Janeiro, Rua da Palma, Rua Formosa ou Afonso Pena, Travessa do Portinho e chega até a Rua da Manga, onde uma placa em um casarão indica a construção de um cais em 1869. Diz a história que havia no local um italiano chamado Cagliostro, mas, como os ludovicenses não conseguiam pronunciar seu nome, passaram a chamá-lo de “Caga Osso”.

 

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