LONGE DE CASA

Histórias e desafios de quem saiu de casa para conquistar a graduação

O Imparcial vai contar a história de três pessoas que abandonaram o conforto da sua casa em busca de um futuro melhor. Uma luta diária, mas de um resultado surpreendente

“Quando a fome bateu, eu me perguntei por que eu passava por isso”

Pensou em desistir, mas hoje Inayhara é formada em Engenharia Civil e trabalha na sua cidade natal.

Natural da cidade de Alto Alegre do Pindaré, Inayhara Soares, de 26 anos, saiu de casa aos 21 anos. Distante 346,2 km da capital maranhense e vinda de uma família humildade a jovem saiu de sua terrinha para cursar engenharia civil em São Luís. Ela conta que todas as dificuldades foram primordiais para seu crescimento. “No inicio do meu ingresso na universidade foi bem difícil. Primeiro a questão da adaptação em outra cidade, cidade alheia com costumes diferentes dos seus. Sem falar que sua família não vai estar lá nos momentos difíceis, principalmente quando o medo a insegurança tiver ao seu lado”, a jovem ainda conta que era motivo de zoação dos colegas de faculdade devido ao bairro que morava em São Luís: “todos moravam em bairros nobres e eu morava na Cidade Operária, quem sabe longe, longe do bairro Renascença. Eu já cheguei a passar três horas em um ônibus pra chegar à faculdade. Mas, eu sempre era a primeira a chegar na turma e esses desafios foram me fazendo forte. Minha bateria recarregava  a cada vez que eu ouvia dos meus colegas e principalmente dos meus professores ‘poxa, Inayhara tu mora tão longe, mas sempre é a primeira a chegar. Eu sinto muito orgulho de ti’. Porém, devido a distância meu rendimento nem sempre foi tão bom, pois eu tinha que sair cedo pra chegar o mais cedo em casa devido a insegurança que está instalada no bairro, e também por muitas vezes o cansaço ser massacrante”, relatou.

Ela lembra as dificuldades que passou e principalmente quando a fome bateu em sua porta. “Às vezes eu ia pra faculdade e eu não tinha dinheiro pra comprar sequer uma balinha e muitas vezes necessitavam que passássemos o dia todo lá. Uma vez chegando na parada de ônibus eu sentia que minha barriga “ia grudar nas costas” de tanta fome e foi quando eu achei cinco centavos na bolsa e ali próximo vi uma banquinha de bombons. Na minha mente um bombom ainda custava cinco centavos e eu perguntava o preço de todos os bombons, mas não tinha nenhum nesse valor e já envergonhada eu vi o ônibus – Cohatrac – passando e eu disse: ah, meu ônibus. Depois eu passo aí, obrigada. Quando no fim meu ônibus seria Cidade Operária São Francisco. Dentro desse ônibus as lágrimas começaram a descer e eu me perguntava ‘por que eu estou passando por isso meu Deus?’”, desabafa.

Cinco anos de luta se passaram e ela conta que tudo valeu a pena, mesmo como as inúmeras vontades de desistir: “situações como essa me trouxeram a vontade de desistir. Mas, eu perseverei e colocava sempre na minha mente ‘vai passar, eu sou vencedora, vai passar, eu sou vencedora’, e isso passaram-se cinco anos e hoje estou formada e atuo como engenheira fiscal na minha cidade natal, visando o maior desenvolvimento da minha terra”, conclui.

Na próxima página, vamos contar a história de Thales Ximenes, de apenas 20 anos. Ele foi expulso de casa pela mãe e vende bombom na praia para sobreviver e pagar os custos dos estudos.

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