DESEMPREGO

De maio a julho, iniciativa privada demite 2,9 milhões de pessoas

Taxa no país sobe para 13,3% da força de trabalho no segundo trimestre, de acordo com a Pnad Contínua, elaborada pelo IBGE. Número de brasileiros ocupados recua 9,6% e cai para 83,3 milhões de pessoas. Trata-se do menor contingente da série estatística

Crédito:TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/Código imagem:150810

Com os efeitos da pandemia pelo novo coronavírus, o Brasil encerra o segundo trimestre de 2020 com taxa de desemprego de 13,3%, maior do que o trimestre anterior, quando era de 12,2%, quantidade recorde de desalentados e o menor número de pessoas com carteira assinada da série histórica, iniciada em 2012, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE. Apenas entre março e julho, o setor privado demitiu 2,9 milhões de trabalhadores com carteira assinada.

O número de desocupados (12,8 milhões), no entanto, ficou estável em relação ao trimestre anterior (12,9 milhões). Isso ocorreu, porém, devido ao crescimento da quantidade de trabalhadores que desistiram de procurar emprego durante a pandemia, o chamado desalento. De acordo com o levantamento, o número de pessoas ocupadas caiu 9,6% no período, ou seja, uma redução de 8,9 milhões. Como isso, a população total ocupada no Brasil recuou para 83,3 milhões de trabalhadores. Comparado a 2019, esse total aponta 10,5 milhões a menos.

Segundo o IBGE, a população fora da força de trabalho (77,8 milhões de pessoas) também é a maior da série, iniciada em 2012: subiu 15,6% (mais 10,5 milhões de pessoas) em relação a março e aumentou 20,1% (mais 13 milhões) frente a igual trimestre de 2019.

Sem surpresa

Para o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas e ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento, o futuro do país será sombrio, se governo e iniciativa privada não investirem em setores intensivos em mão de obra. “O que vai fazer a economia andar não é o gasto corrente com auxílio emergencial, nesse momento de carência extrema. A economia tem que ser reativada de maneira sistêmica”, afirma. O primeiro ponto, para o governo, é resolver o rombo na Previdência (no total de R$ 318,4 bilhões, sendo R$ 213,3 bilhões do setor privado e R$ 53,3 bilhões, dos servidores públicos), diz.

“É hora de todos investirem, por exemplo, no setor de infraestrutura. Pesquisei 70 projetos de concessão e constatei R$ 44 bilhões de oportunidades. Seria uma saída para estancar o aumento do desemprego”, afirma Velloso. Ele fez um cálculo, com base em dados do Banco Central, simulando as perspectivas de comportamento do Produto Interno Bruto (PIB), quando foi divulgado o possível fraco desempenho dos Estados Unidos — resultado negativo de 32,9%, em termos anualizados, no primeiro trimestre.

Essa comparação é importante, segundo Raul Velloso. Ele explicou que, nos EUA, o cálculo é anualizado (projeção para 12 meses). Mas quando se compra o primeiro com o segundo trimestre, a queda do PIB americano melhora, para 9,5%. “No Brasil, no entanto, embora ainda não tenhamos o PIB do segundo trimestre, fazendo várias simulações e as mesmas comparações, se chega a um tombo projetado de 39,3% em um período de um ano. Estamos no fundo do poço. E é por isso que, se não houver economia nos cofres públicos e incentivo à criação de vagas no setor privado, o desemprego poderá explodir”, reforçou Velloso.

No dia a dia, a população sente os efeitos da pandemia. Francisco de Oliveira, 45 anos, microempresário, mora na Cidade Ocidental, em Goiás, mas fazia eventos no Distrito Federal. É chefe de cozinha e dono de um buffet. Em março, devido ao isolamento social, vários eventos foram cancelados. “Agora estou dependendo dos R$ 600 do auxílio emergencial ou de algum extra, quando consigo vender marmita”, disse. Ele vendeu vários equipamentos, devido à falta de recursos, e ainda está desempregado. “Por mês, meu rendimento era de R$ 5 mil a R$ 6 mil. Por isso, tenho buscado outras alternativas para conseguir pagar as contas”, explicou.

Andreia Santos, 44 anos, trabalhava como assistente no departamento pessoal de uma distribuidora de produtos automotivos em São Bernardo dos Campos (SP). “Em novembro, faria quatro anos no departamento. Então, quando começou a crise, as demissões aconteceram, mesmo com a empresa faturando. Penso que era mais o medo do futuro”, disse. No primeiro instante da pandemia, a filha de Andreia teve suspeita de covid-19, e ela foi afastada por 15 dias.

“Logo depois dos 15 dias, me deram férias. Quando voltei, só demorou um mês e me demitiram no início de junho”, contou. Hoje, ela se sustenta com o dinheiro do seguro desemprego.

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