CINEMA

Quarto de Camarim é lançado nesta segunda com debate no CineLume

Filme sobre o reencontro entre sobrinha e sua tia, que é travesti, estreia no Brasil, comexibição em São Luís, seguido de um debate com crítico de cinema e membro da Abraccine

Foto: Reprodução

Após ser exibido em festivais internacionais, o filme Quarto Camarim é lançado hoje, pela primeira vez no Brasil, simultaneamente em São Luís e em Goiânia. O filme, com abordagem documental e métodos ficcionais, aborda o reencontro, depois de 27 anos, da diretora baiana Camele Queiroz com o seu tio Roniel – hoje com o nome de Luma e, até então, residente da cidade de São Paulo. A sessão será às 20h30, no Cine Lume (Renascença) e, após a exibição, o público poderá participar de debate mediado pelo crítico de cinema e membro da Abraccine, Márcio Sallem. Antes só havia sido projetado em festivais internacionais, no Canadá (Vancouver), Venezuela (Ilha de Maragarita) e República Dominicana (Santo Domingo). Além de Camele, a obra tem direção de Fabricio Ramos.
Contemplado pelo Rumos Itaú Cultural, um dos principais programas de fomento à cultura e às artes brasileiras, Quarto Camarim, de Camele Queiroz e Fabricio Ramos, tem como força dramática o fato de Luma, novo nome de Roniel, ser tia da própria diretora, nublando as fronteiras entre a vida e a arte, o documentário e a ficção, o fato e a memória; é uma obra que mostra um reencontro entre duas sensibilidades, de diferentes gerações e vivências.

Em Quarto Camarim, o próprio cinema medeia a relação entre Camele e sua tia Luma, que a diretora conheceu, ainda na infância, como tio Roniel, e que agora é travesti, cabeleireira e performer. Nesse reencontro, a diretora questiona se essa busca acontece por razões afetivas ou se limita ao objetivo de fazer um filme. O afeto entre ambas vai se manifestando aos poucos, tensionado pelas conversas sinceras.

Em entrevista a O Imparcial, Camele Queiroz revelou o que a motivou a retratar essa história tão pessoal. “O que tem me inspirado muito, de uns tempos pra cá, é poder refletir sobre os aspectos trágicos da nossa existência, os dramas humanos. Isso nos empurra para abraçar a vida. A existência humana é cheia de tragédias, amores e dores. Isso se manifesta tanto nas microrrelações, quanto nas macro. Sinto no ar, hoje em dia, uma certa tendência a se tentar sufocar ou evitar essa nossa dimensão trágica. Penso que isso nos infantiliza. A vida de Luma é muito inspiradora nesse sentido”, explicou a diretora.

Camele Queiroz acrescentou ainda que Luma revela essa força das personagens trágicas, de vida difícil, mas de caráter afirmativo, corajoso. “Ela demonstra, por exemplo, um forte senso de família e conta que foi, se não a primeira, uma das primeiras travestis a usar saia nas ruas de Feira de Santana, uma cidade do sertão da Bahia, árida em vários sentidos, geográficos e simbólicos, mas, mesmo assim, uma cidade que teve momentos culturais marcantes, especialmente no campo da poesia e mesmo do cinema, visto que lá nasceu, viveu e filmou Olney São Paulo, por exemplo. Metaforicamente, vejo Luma reunir a resistência a essa aridez com a chama da vivacidade que marca a cidade em que ela nasceu e cresceu antes de partir para outros cantos do país”, ressaltou Camele Queiroz.

Sobre a importância do filme e seu contexto, a diretora frisou que o filme Quarto Camarim parte de um encontro, mais precisamente, mostra um reencontro entre duas sensibilidades, de diferentes gerações e histórias de vida. “O fato de Luma ser travesti traz à tona dimensões sociais e políticas complexas no campo da sexualidade, das diferenças de classe, dos afetos familiares, do preconceito violento e de questões de gênero. Mas a abordagem escolhida por nós, que se situa no limite das relações entre estética e política, propõe ao espectador uma experiência cujo sentido e importância ele mesmo deverá procurar. Preferimos não estabelecer de antemão ou julgar a importância que o tema do filme evoca. Mas temos consciência de que, por um lado, a força dramática do filme reside no fato de Luma ser travesti e ser minha tia, mas, por outro, essa força vem também da expressão pessoal de minhas inquietações e das escolhas formais às quais eu recorro para expressá-las, nublando as fronteiras entre a vida e a arte, entre o documentário e a ficção, entre o fato e a memória. Pessoalmente, sinto que tudo isso reunido constrói um filme que só pode ser importante na medida em que ele possa causar no espectador uma intensidade de sentimento. São os impactos na sensibilidade que, historicamente, transformam as sociedades, seus valores, suas verdades, para quem sabe, trilharmos o caminho de um mundo menos violento e mais aberto às diferenças”, disse ela. Quarto Camarim é uma obra que mostra um reencontro entre duas sensibilidades, de diferentes gerações e vivências.

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