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Livro sobre mídias regionais brasileiras será lançado nesta quinta na AMEI

O trabalho aborda características dos mercados locais e o impacto da posse de veículos por políticos

Pamela Pinto. (Foto: Reprodução)

O livro Brasil e as suas mídias regionais: estudos sobre as regiões Norte e Sul será lançado nesta quinta, 1, na Livraria e Espaço Cultural da Associação Maranhense de Escritores Independentes (AMEI), localizada no São Luís Shopping. De autoria da jornalista maranhense Pâmela Pinto, o livro discute o papel estratégico da mídia feita nos estados e ilustra a diversidade da mídia brasileira ao comparar o mercado dessas regiões com contrastes marcantes.

A pesquisa que originou o livro foi durante o doutorado da jornalista na Universidade Federal Fluminense (UFF). Em 2017, o trabalho recebeu o Prêmio Compolítica de Melhor Tese, concedido pela Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política.

O estudo mostra o impacto da afiliação a redes nacionais (Globo, SBT, Record e Band) na organização dos grupos locais e a interferência direta dessas rede

s no tempo e no tipo de conteúdo produzido. O mapeamento de rádios, TVs e jornais localizou 392 veículos, em 29 cidades no Norte, e 824 veículos no Sul, em 58 cidades.

Segundo a autora, o livro apresenta uma nova abordagem para o conceito de mídia regional no Brasil, entendendo-a como meio de comunicação existente em uma área geográfica, com articulação em diferentes níveis espaciais (o local, o regional e o nacional). Observa também o vínculo de políticos donos de mídia nas duas áreas e os reflexos dessa posse para a democracia brasileira.

“A ideia é discutir esse mercado hoje, entender como funciona para poder pensar, criticar e propor novos modelos de negócio”, comenta a jornalista.

Durante a pesquisa, vários aspectos foram observados, inclusive de que a prática de controle de mídia, o chamado coronelismo eletrônico, tão atribuído à região Nordeste, é algo que acontece no Brasil todo.

“E isso já leva a uma segunda questão. Porque quando o político controla a mídia, ele tem uma espécie de palanque permanente. No Maranhão, temos vários exemplos. Então, ele tem, durante o mandato, ou mesmo sendo ele candidato ou que vai lançar alguém, a mídia a favor dele. Essa posse de rádio, TV ou mesmo o jornal impresso, projeta esse candidato. O que acaba prejudicando a democracia, de certo modo, porque impõe as verdades do detentor da mídia”, analisa Pâmela Pinto.

Políticos donos de mídia

A amostra identificou 34 políticos donos de mídias no Norte e 56 políticos no Sul. Muitos são donos de veículos afiliados a redes de rádio e TV nacionais. Em 2015, 12 políticos do Norte e 12 do Sul exerceram cargos eletivos no Congresso e nas assembleias estaduais. Os ministros Ricardo Barros (Saúde) e Helder Barbalho (Integração Nacional) e o ex-ministro Romero Jucá (Planejamento) são donos de mídias nas suas bases eleitorais – Paraná, Pará e Roraima, respectivamente. Eles ilustram como a posse de mídia impacta o cenário político nacional, pois usam estas mídias locais como plataforma e se tornam atores com interferência na política do país.

Ela conta que estudou um grupo do Amapá que tem o controle das emissoras repetidoras do SBT, da Band e da Record no estado.

“No Brasil, a comunicação é vista como negócio e ainda não é tratada como um direito. Temos uma mídia concentrada em poucos grupos, alguns veículos são de propriedade de políticos e há uma forte influência das redes de TV (comerciais) nos mercados regionais. Essa configuração limita a produção de conteúdo local nos mercados regionais. A parceria com as redes nacionais fortalece os grupos locais, que acabam por criar conglomerados regionais que controlam a informação”, pontua Pâmela Pinto.

A pesquisa também observou que na região Norte a mídia que tem mais conteúdo local exibe programas policiais. E que muitos jornalistas/apresentadores acabam se promovendo e virando políticos. O que acaba se tornando um ciclo vicioso. No Sul, segundo a pesquisa, há mais programas de entretenimento. “Durante muito tempo a academia se voltou para estudar a grande mídia e esse mercado regional tem crescido de forma muito rápida, alavancada por dois motivos; a internet que permite várias plataformas, a exemplo do jornal on-line; e o recurso para pequenas mídias dado pelo governo federal dentro de uma politica de descentralização do mercado regional e estimulando o conteúdo regional. Nos últimos 10 anos houve um crescimento do mercado por esses dois aspectos. E é importante que a gente estude esse mercado, entenda, veja quais são os desafios”, sugere Pâmela Pinto.

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