EDITORIAL

Mudanças se impõem

Unanimidades são raras em país tão heterogêneo quanto o Brasil. Mas, apesar da diversidade, uma concordância se impõe. Trata-se da avaliação da escola. Ninguém duvida de que a educação é ruim. E, por isso, precisa mudar. Na década do conhecimento, não se aceitam instituições do século 19 sentindo-se aptas a atender crianças e jovens do […]

Unanimidades são raras em país tão heterogêneo quanto o Brasil. Mas, apesar da diversidade, uma concordância se impõe. Trata-se da avaliação da escola. Ninguém duvida de que a educação é ruim. E, por isso, precisa mudar. Na década do conhecimento, não se aceitam instituições do século 19 sentindo-se aptas a atender crianças e jovens do século 21.
O resultado assusta e indigna. Adolescentes concluem o ensino fundamental incapazes de entender ou escrever um texto ou de fazer as quatro operações. São os analfabetos funcionais, pessoas que frequentaram as salas de aula, mas não aprenderam. A má qualidade do ensino tem grande responsabilidade na evasão escolar. Rapazes e moças abandonam o sistema e engrossam as estatísticas da geração nem-nem — nem estudam, nem trabalham. Tornam-se presa fácil do tráfico.
Estudantes brasileiros registram sucessivos fracassos em testes nacionais e internacionais. Vale o exemplo do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Em 2012, entre 65 países, o Brasil ocupou a 55ª colocação em leitura, a 58ª em matemática e a 59ª em ciências. No ranking geral, ficou em 59º lugar. A humilhação, convém lembrar, não constitui nenhum acidente de percurso. Repete-se a cada três anos, periodicidade da aplicação do exame.
Clamor de pais não encontrou eco. Empresários, premidos pela urgência de contar com mão de obra qualificada e, com isso, melhorar a produtividade, não lograram melhor êxito. Foi necessária a mobilização da sociedade civil organizada para que se dessem passos no sentido de definir as expectativas de aprendizagem. Há dois anos, instituições privadas levantaram experiências internacionais na elaboração de base nacional comum. Posteriormente, o Ministério da Educação se incorporou ao movimento.
Na quarta-feira, o Ministério da Educação divulgou currículo único nacional. O texto apresenta os conteúdos básicos que todos os estudantes devem aprender — 60% serão nacionais (obrigatórios para todos) e 40%, regionais (definidos segundo a cultura da unidade da Federação ou da região). Haverá, então, nova fase de consultas públicas. Espera-se que seja aprovado até meados de 2016.
A clareza de objetivos é importante para dar rumo ao sistema. Com as linhas traçadas, o aluno sabe o que vai aprender, o professor o que vai ensinar, as universidades como preparar os docentes. Há, porém, desafios a enfrentar. O primeiro reside na coordenação. Impõe-se evitar a fragmentação para manter a unidade conquistada. O outro, a participação das universidades. As instituições de ensino superior, até agora marginalizadas do processo, precisam entrar na roda. Se ficarem de fora, os currículos não dialogarão com os professores. Por fim, o tempo. Espera-se que o ponto final não fique para as calendas gregas.
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